A Acha (excerto)
Já tivemos a ocasião de revelar, que no mundo das origens, lá onde digamos, os ditos testemunhos “positivos”, ou perante essa ambiguidade, o símbolo e o mito podem muitas vezes oferecer um fio condutor precioso para uma exploração mais profunda do que superficial. Foi admitido, e não é de hoje, pelo racismo alemão, sobretudo quando eles se propuseram de completar as pesquisas antropológicas e biológicas através de uma espiritualidade e uma “visão de mundo” que lhes permitisse afirmar novamente os princípios dentro do domínio da história das religiões, da mitologia comparada, das tradições primordiais e das sagas. Em Itália, este assunto tem restado até agora, praticamente virgem. No entanto, e dentro do dito antigo mundo da península italiana, que desde a mais longínqua pré-história, foi submetido à influência de civilizações e povos muitos diversos, e que oferecem muito raramente um paralelismo rigoroso entre a pureza étnica e aquela das tradições correspondentes, uma pesquisa assimilando o símbolo e o mito num documento, poderá ter resultados de uma importante singularidade.
Naturalmente para isso é necessário uma qualificação adequada e um olho particularmente treinado. Assim como a língua, um símbolo e um mito duma raça, podem passar a uma outra raça, duma civilização a outra, modificando-se de certa maneira, de função, servindo de suporte a outras significações daqueles que tinham normalmente na sua origem. É preciso portanto saber orientar-se e integrar tudo que este tipo de pesquisa pode trazer de conhecimentos sólidos de ordem tradicional.
Isto será nosso ponto de partida para certas considerações que queremos fazer aqui a propósito de alguns símbolos dos quais a presença no antigo mundo itálico, depois romano, testemunharam à sua maneira, a existência duma tradição original e do tipo nomeadamente nórdico ariano, ou como preferimos dizer “hiperboreo”. Nós preferimos dizer hiperboreo, para prevenir toda a falsa interpretação ou toda a deformação justificada. E por falar em “ariano-nordico”, podemos crer que aderimos à tese pangermanista e por isso reconhecemos que aquilo que temos de mais valioso no nosso povo e na nossa tradição deriva de raças puramente nórdicas e nórdico-germânicas. Utilizando como nós o fazemos, “hiperboreo” tem uma outra extensão. E refere-se a uma fonte absolutamente primordial, base do grupo global dos povos e das civilizações arianas, das quais as raças nórdico-germanicas não são mais que uma ramificação particular. As forças originais e criadoras das civilizações da Índia antiga, do Irão e da primeira Hélade e de Roma, podem reivindicar uma origem idêntica e pelo menos uma igual dignidade.
Este ponto estabelecido, os principais símbolos do antigo emaranhado que nós decidimos de examinar e compreender a sua significação mais profunda e mais pura são: a acha, o lobo, o cisne, a águia a cruz radial. Para este exame é necessário empregar o método comparativo, aplicado ao conjunto do ciclo das civilizações e dos mitos arianos: aquilo que nos oferece uma destas tradições arianas e aquilo que encontramos em outra é então integrado, confirmado e posteriormente esclarecido.
No presente artigo vamos nos limitar à Acha. A Acha é um dos símbolos mais característicos da tradição hiperborea primordial. Seus traços levam-nos à mais longínqua pré-história segundo alguns, segundo outros à última época glaciar, e pelo menos a um período paleolítico. Numa obra recente, Paulsen, escreveu cartas ilustrando a larga difusão da Acha hiperborea, situada em diversos locais pré-históricos da Europa. O tipo mais antigo é aquela da “acha sideral” em quartz ou ferro meteórico, quer dizer uma substância caída “do céu”. É sem dúvida certo que o uso destas achas siderais eram sagradas e ritualizadas. Considerando-se a substância da qual eram feitas, estas Achas siderais levam-nos finalmente a um simbolismo mais abrangente das “pedras divinas”, das “pedras caídas do céu”, que tiveram uma grande importância na antiguidade onde se criava um centro tradicional: desde o Omphalos de Delphos à “pedra do destino” – lia-gail – das antigas tradições britânicas, da ancilia, confeccionada na Roma antiga, feita de pedras caídas do céu e com o significado de aval de soberania, pignum imperii, até ao Graal, que segundo a tradição foi trazido e conservado por Wolfram von Eschenbach é igualmente uma pedra caída do céu.
No caso da Acha, este simbolismo genérico acata uma significação especial numa relação estreita com uma tradição heróica e sagrada. As pedras dos meteoros simbolizavam também o “raio”, (daqui a expressão “pedra de raio”) a força celeste fulminante, significa que se estendia à Acha sideral pré-histórica: como o raio, ela quebra e corta. Assim é a base da significação que a Acha, arma e símbolo, teve nas tradições ariana e nórdico-arianas, hiperboreas primordiais desde a Roma antiga até à época dos Vikings.
Na concepção ariana de guerra – da qual já falamos muitas vezes – o elemento material é inseparável do elemento espiritual, transcendente. Em toda a luta ou conquista, o antigo Ariano via o reflexo da luta metafísica, do eterno conflito entre as forças olímpicas e celestes da luz contra as forças potentes e obscuras e selvagens da matéria e do caos. A Acha, como arma e símbolo, está estreitamente ligada aos seus significados. A Acha aparece como uma arma “celeste” empunhada seja pelo guerreiro ou pelo conquistador hiperboreo, ou seja pelo sacrificador ou o sacerdote. Remontando a uma longínqua antiguidade, nos desenhos rupestres, em Fossùm (Suécia) podemos ver numerosas figuras que empunham achas, entrecruzadas com símbolos solares. Ora é interessante de observar estas convergências. Os antigos símbolos nórdicos correspondem a reminiscências ainda mais antigas, dos quais seriam da civilização franco-cantábrico da Madalena ou de CroMagnon (aproximadamente 10.000 anos antes da nossa era), civilização dita do “Reno”, que na nossa opinião, estendeu-se até uma região ligure. De outra forma, nos vestígios arcaicos da civilização itálico-ligure encontramos a Acha, acompanhada de símbolos solares e hiperboreos, como o cisne e a cruz radial (suástica). Franz Altheim recentemente demonstrou a correspondência entre traços pré-históricos de Val Camonica e traços suecos. Encontramos também figuras rupestres nesta região italiana, onde figuram a acha simbólica e um símbolo solar e astral análogo. A este propósito, Altheim chegou mesmo a falar duma verdadeira “migração dorinne em Itália”, de tal maneira lhe pareceu evidente a semelhança da civilização que deixou seus traços no Norte da Itália. E que deveria conduzir, por vias enigmáticas, à criação de Roma, como aquela dos Dórias na Grécia e da qual a conclusão deveria ter sido a criação de Esparta.
Quanto à significação espiritual da “acha sideral”, nós a encontramos no culto nórdico-ariano do Thor. Thor era uma figura divina que tinha por atributo duas armas, que no fundo se equivalem: - uma é a Acha outra o martelo de duas cabeças, mjolnir. As duas armas são análogas pois o martelo representa ele mesmo a força do raio tal como a Acha; aliás, o martelo duplo, pela sua forma se confunde com a Acha de duas lâminas que saem do mesmo simbolismo e nos leva especificamente à tradição hiperborea. Thor combate com esta arma as “forças elementares”, os Elementarwesen, que tentam produzir as forças celestes (simbolicamente a “Lua” e o “sol”) e é também com ela, que no grupo dos “heróis divinos” ou Ases, ele luta contra o “obscurantismo do divino” o ragna-rokkr, mas que não deve ser confundido romanticamente com o crepúsculo dos deuses, como Wagner; mas sim considerá-lo como um eco mítico do fim trágico dum ciclo de civilização e de tradição original hiperborea, ou seja, dentro do mito.
[A conclusão deste texto será publicada no Boletim Evoliano]
- Julius Evola, "Symboles et "mythes" de la tradition occidentale"
o que eu estava procurando, obrigado