Por uma questão de vergonha
Relembramo-nos deste tema a propósito de uma conversa que recentemente tivemos com um amigo nosso. Contava-nos ele que certos indivíduos por estarem na “nossa área” e portanto contra este modelo económico-social, não davam a importância devida ao dinheiro… eram, em última análise, dizia-nos, maus a fazer e a prestar contas.
Há uns meses recebemos um contacto de Inglaterra de um (mais um) indivíduo da “nossa área” que queria a t-shirt de Julius Evola. Depois de estudada a melhor forma de enviar a dita para Inglaterra e depois de se verificar que os ingleses (também nisto) não tinham a “convenção europeia de correios”, decidimos enviar a t-shirt sem ser à cobrança. Assim fizemos, carta registada com o conteúdo lá dentro, e informamos o inglês que quando recebesse a encomenda nos enviasse os euros da mesma forma. Até à data estamos à espera do dinheiro. É claro que esta questão foi debatida entre nós antes do envio mas chegamos à conclusão que valia a pena arriscar e desta forma sabermos se era realmente um dos nossos ou não. Neste caso perdemos uns trocos mas ganhamos uma certeza – este indivíduo não é dos nossos.
Também conhecemos outros que com emprego e profissão estável dão mais importância às gorjetas que muitas vezes ilicitamente recebem do que ao vencimento a que têm direito pelo seu trabalho. E isto, embora não pareça, é grave, mostra falta de carácter, uma atitude de servilismo própria de gente inferior.
Não queremos dar demasiada importância ao assunto, mas preocupa-nos que gente que se diz da nossa, se “esqueça” de pagar as dívidas, de devolver os livros que lhes emprestam, etc. O que não nos pertence devolve-se, se não nos pesa nas mãos deve, se formos homens, pesar-nos na consciência.
O ser contra o sistema burguês capitalista não pode jamais servir de desculpa para não se cumprir com as obrigações e a palavra dada, sobretudo para com os seus camaradas.
Quando falamos com pessoas mais velhas, e tendo em conta os dias que correm, costuma vir ao de cima a frase batida: “eu ainda sou do tempo em que a palavra e um aperto de mão selavam os contratos, e ai de quem falhasse!”
Pois bem, a célebre Palavra de Honra que conhecemos como selo contratual máximo e apanágio de outras épocas já passou de moda, e é bom que tenhamos presente que não foi uma invenção burguesa para selar contratos comerciais. Na passagem do domínio da casta guerreira para a mercantil, os burgueses, senhores do Terceiro Estado, copiaram, e ainda bem, pormenores que não faziam propriamente parte dos seus “genes” e ganharam com esta atitude respeitabilidade fazendo com que outros os admirassem (também) como Senhores, homens de palavra – Homens de Honra.
Com o advento do Quinto Estado, o do pária, a confusão aumentou, já não sabemos mais onde estão os homens e muito menos os Homens de Honra. Relembrando um outro caso em que alguém ligado ao sistema judiciário nos dizia: a nova moda dos “ricos” para não cumprirem com as suas obrigações financeiras é apresentarem insolvência em Tribunal, eles já não têm vergonha, pelo contrário começa a ser sinal de um novo tipo: o “chic… esperto”!
A mesma fonte informava-nos conhecer uma empregada de limpeza que, encontrando-se financeiramente com a corda ao pescoço e mesmo depois de lhe explicada a situação do processo de insolvência… se recusava a “abrir falência”, pois tinha vergonha. Pôs a sua casa à venda e o marido emigrara para conseguir fazer face às dívidas.
Felizmente ainda há gente com vergonha. Pois só homens de honra conhecem esse sentimento. Não fosse o sentimento de vergonha (o nome manchado), um dos pilares da educação do jovem samurai – Bushido.
0 Response to "Por uma questão de vergonha"
Enviar um comentário