Evola, nós e o Islão

Julius Evola escreveu em vários momentos sobre o Islão. Em «Revolta contra o Mundo Moderno» podemos ler, no capítulo “A Grande e a Pequena Guerra Santa” [1], o seguinte: “Como na visão tradicional toda a realidade era um símbolo e toda a acção um rito, isto não podia deixar de ser válido também para a guerra. É por isso que, tradicionalmente, a guerra conseguiu revestir-se de um carácter sagrado, e a «guerra santa» e a «via de Deus» serem uma e a mesma coisa. (…) Na tradição islâmica distinguem-se duas guerras santas: uma é a «grande guerra santa» – el-jihâdul-akbar – e a outra a «pequena guerra santa» – el-jihâdul-açghar – de acordo com um dito do Profeta que, de regresso de uma expedição guerreira, disse: «Voltámos da pequena guerra santa para a grande guerra santa.» A grande guerra é de ordem interna e espiritual; a outra é a guerra material, a que se combate no exterior contra um povo inimigo, em particular, com a intenção de recuperar povos «infiéis» para o espaço em que vigora a «lei de Deus», dar al-islâm.
Todavia a «grande guerra santa» está para a «pequena guerra santa» como a alma está para o corpo; e é fundamental para a compreensão da ascese heróica ou da «via da acção» entender a situação em que as duas se transformam numa única, tornando-se a «pequena guerra santa» um meio pelo qual se realiza uma «grande guerra santa» e vice-versa: a «pequena guerra santa» – a exterior – tornando-se quase uma acção ritual que exprime e testemunha a realidade da primeira. Com efeito, nas suas origens o Islão ortodoxo concebeu uma única forma de ascese: a que se liga precisamente ao jihad, à «guerra santa»”.
Ora bem, depois deste precioso auxiliar de memória, que nos fique bem claro que o Islão foi estudado, visto, e reconhecido por Evola como uma doutrina, também ela, Tradicional pelo menos na sua génese. Convém também aqui recordar que outro nosso tradicionalista, René Guénon, termina sua vida convertido ao islamismo.
Podemos imaginar se Evola ou sobretudo Guénon, o convertido, teria hoje, perante o islamismo que nos entra em casa pelos telejornais, a mesma visão que o levou a abraçar dita religião. Da mesma forma poderemos imaginar se o nosso Evola apoiaria a actual barbárie do radicalismo islâmico.
Não sabemos, podemos especular, mas não passaria disso. Mas uma coisa sabemos: na devida altura (também em «Revolta contra o Mundo Moderno») o nosso autor desmascarou, ridicularizou e atacou em todos os sentidos a América e o americanismo. De igual modo atacou o comunismo e, como quem mata dois coelhos de uma cajadada, escreveu: “Aqui Estaline e Ford dão-se as mãos e, naturalmente, estabelece-se um círculo vicioso: a estandardização inerente a todo o produto mecânico e quantitativo determina e impõe a estandardização de quem o consuma, a uniformidade dos gostos e uma progressiva redução a poucos tipos, que vai de encontro às tendências que se manifestam directamente nas mentalidades. E na América tudo concorre para este fim…”
Se o comunismo assumiu o seu ateísmo, os americanos ao contrário justificam o seu modo de vida, totalmente anti-tradicional, completamente desprovido de qualquer sentido superior, com um sempre presente “Deus Abençoe a América!”
Que com isto não nos restem dúvidas: se Evola atacou esta aberração que pretende submeter o mundo ao seu materialismo ateu, cristão e judaico com pretensa justificação divina, no momento actual que a besta está, como comprova o processo globalizador em curso, na sua maior força, Evola só poderia dizer: “Eu não vos avisei? Era disto, destas ruínas que eu falava e é perante isto que temos que permanecer de pé.” (Mas de pé ao lado de quem?)
Perante isto, e enfrentando esta besta maléfica e desagregadora surge uma força capaz de, se não combatê-la abertamente, assustá-la, intimidá-la, fazendo o tigre sacudir-se de raiva, e mostrando toda a sua maldade sempre que procura retaliar.
Falamos do Islão e sobretudo desse chamado radicalismo islâmico que, tanto quanto se sabe, atira aviões de passageiros contra torres cheias de gente, faz explodir comboios e autocarros, mata indiscriminadamente mulheres e crianças; e com estes actos, aparentemente tresloucados, uns fanáticos dizem acreditar terem umas dezenas de virgens à sua espera no paraíso!
Será esta a guerra santa, a jihad? Eles acreditam que sim e que Alá está do seu lado, do lado dos mártires.
Não sabemos se esta era a tradição guerreira de que Evola falava, mas temos sérias e legítimas dúvidas.
Como brancos e europeus que somos, e nesta Europa vivendo, sabemos que o nosso inimigo histórico é o Islão (as suas hostes ocuparam a nossa península durante mais de sete séculos), mas como Tradicionalistas também sabemos que só uma força poderosa, religiosa (espiritual) e pragmática, pode pôr cobro a esta modernidade última: dos abortos indiscriminados, do “casamento” gay, da liberalização e descriminalização das drogas, da banalização total do corpo da mulher (e do homem) pelo negócio do sexo, da total imoralidade económico-financeira, dos consecutivos ataques à tradicional organização familiar, da proliferação das máfias, do regresso em força da pirataria, da escravatura (com outro nome, claro) através da imigração desregrada, enfim da democracia…
Para a gente que partilha da nossa concepção do mundo, Tradicionalistas portanto, não devem existir perigos acerca de possíveis confusões de valores, pois estes temo-los bem claros. Ou seja, na “teoria”, na Metafísica, estamos todos (mais ou menos) de acordo, mas quando passamos para a prática, cada um parece apontar para seu lado.
Será o Islão a nossa salvação?
Vem-me à memória aquela passagem do filme «Taxi Driver»: “Sonho com um dilúvio que limpará a escumalha das ruas…”
O radicalismo islâmico pode parecer para alguns “de nós” o dilúvio necessário mas é com certeza um pacto perigoso.
O fim das coisas é importante, mas os meios para os atingir devem ser, para nós, aquilo que realmente marca a diferença entre a Elevação e a barbárie.
Como dizia Evola: fazer perigosas concessões hoje, é perdermos o amanhã.
Saibamos portanto permanecer de pé, perante TODAS as ruínas.
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1. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1989, p. 167.


2 Response to "Evola, nós e o Islão"

  1. Anónimo says:

    O islam nem sequer é baseado no corão.
    No inicio maomé já queria o poder todo, nomeadamente o de roubar e matar e nem corão tinha.

    Anónimo says:

    Socorramo-nos – uma vez mais de Nietzsche, "É melhor viver nos gelos que entre as virtudes modernas e outros ventos do sul”

    ;-)

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