A civilização moderna representa uma perversão
«A civilização e a sociedade moderna representam uma perversão essencialmente pelo seguinte motivo: pelos caracteres de uma hipertrofia teratológica de certos valores em relação aos restantes. Não é certamente a primeira vez na história que se manifestam anomalias, no sentido de desenvolvimentos unilaterais das possibilidades mais inferiores, mais “humanas”, mais materialistas em relação àquelas que, num tipo normal e espiritual de Estado, definiam os estratos sociais superiores e dirigentes. Mas então tratava-se sempre de manifestações esporádicas, cujo carácter negativo era claro para todos. O que por sua vez caracteriza a sociedade moderna é uma racionalização e uma naturalidade do anormal. Que tudo hoje tenha que ser medido nos termos daqueles valores, que antigamente eram próprios tão-só das castas inferiores, que não se saiba pois pensar senão em termos de “economia”, ou de “trabalho”, ou de “política” (em sentido materialista e secularizado), ou de “rendimento”, ou de “serviço”, ou de “colectividade”, e assim sucessivamente, também quando se trata de problemas de uma ordem totalmente diferente, parecia até há pouco totalmente natural, e parecia natural que tudo o resto fosse considerado “abstracção”, “utopia”, “idealismo inane”, “anti-historicismo” próprio de quem não tem o que fazer. O problema reconstrutivo é portanto acima de tudo um problema de limite, ou seja, de circunscrição; depois é um problema de integração, de compensação, de hierarquia. Trata-se, digamo-lo assim, de travar uma força, que é devastadora quando desencadeada, até às suas últimas consequências, e que transporta consigo tudo o resto: trata-se de sujeitá-la a leis válidas não em sua função, mas em função de interesses e princípios mais elevados. Para tal fim há que limpar o campo de todas aquelas formações políticas e de todos aqueles mitos sociais que, partindo do inferior, têm a ilusão de poder criar uma ordem, que é momentânea, contingente, violenta, uma vez que provem justamente das formas últimas da queda da ideia de Estado: representando efectivamente emergências do irracional, privadas da luz de qualquer verdadeiro princípio.»
— Julius Evola, «A reconstrução da ideia de Estado», in Lo Stato, Abril de 1934
Excelente texto!