Solstício de Inverno


Estamos aqui hoje reunidos, neste Solstício de Inverno, para, mais uma vez, recordarmos um camarada que já não se encontra entre nós no mundo dos vivos. Este ano decidimos evocar Guido Lupo Maria De Giorgio, importante figura do tradicionalismo italiano, e um dos responsáveis pela introdução de Evola à Tradição.
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Evola descreve-o, no seu livro «O Caminho do Cinábrio», da seguinte forma: “Era uma espécie de iniciado no estado selvagem e caótico (…). Possuía uma cultura excepcional, conhecia muitas línguas, mas tinha um temperamento muito instável (com alternâncias maníaco-depressivas, como diriam os psicólogos) e fortes achaques passionais, emotivos e líricos, quase à maneira de Nietzsche. A sua intolerância ao mundo moderno era de tal ordem que acabou por se retirar para as montanhas, que sentia como o seu ambiente natural, vivendo num presbitério abandonado quase sem nada, à base de algumas aulas que dava, e sofrendo fisicamente de cada vez que era obrigado a tomar contacto com a vida civilizada e citadina.” E de seguida acrescenta: “A sua influência sobre mim, que não se deve a livros, que nunca publicou, mas sim a cartas perturbadas e agressivas, polvilhadas de iluminações – e de confusões – fica a dever-se ao seu modo de dramatizar e energizar o conceito de Tradição, que em Guénon, devido à sua equação pessoal, apresentava traços demasiado formais e intelectuais. A isto unia-se a sua tendência para a absolutização que, naturalmente, encontrou em mim um terreno congenial.”
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De Giorgio nasceu a 3 de Outubro de 1890, na localidade italiana de San Lupo, na província do Benevento. Filho de um notário, estudou Filosofia em Nápoles, tendo-se diplomado aos 20 anos com uma tese sobre um tema “orientalista”. Muda-se de seguida para a Tunísia onde trabalha como professor de liceu ensinando italiano. É aqui que entra em contacto com o esoterismo islâmico através de uma fraternidade local, contacto este que o marcará profundamente.
Em 1915 volta à Itália, estabelecendo-se em Varazze. Após a I Guerra Mundial muda-se para Paris, onde conhece René Guénon, de quem se torna amigo e colaborador, colaborando com ele nas duas revistas francesas mais importantes da época dedicadas ao esoterismo: «Le Voile d’Isis» e «L’initiation».
Regressa a Itália nos anos vinte, tendo feito parte do Grupo de Ur juntamente com Evola, escrevendo na revista do mesmo nome sob o pseudónimo de Havismat. Em 1930 foi “um dos inspiradores” da revista «La Torre», fundada por Evola, onde escreve sob o pseudónimo de Zero, expondo as suas teses sobre aquilo a que chamava Fascismo Sacro, ou seja, uma tentativa de universalizar o movimento fascista através da via esotérica. No final dos anos 30 e início dos anos 40 colaborou ainda noutras publicações como «Krur» ou «Diorama Letterario» (suplemento do jornal «Il Regime Fascista» de Farinacci).
Após a II Guerra Mundial teve a coragem de escrever um violento panfleto contra o novo regime democrático com o provocatório título de «A República dos Canalhas».
A sua principal obra, «A Tradição Romana», na qual advoga o regresso à antiga concepção da autoridade espiritual e temporal, foi publicada postumamente em 1973. Esta obra, cujo título original era «O emblema fulgural da potência. Introdução à doutrina do Sacro Fascismo Romano», tinha sido originalmente oferecida a Mussolini, sob a forma de manuscrito dactilografado, no Natal de 1939. Em «Deus e o Poeta», obra publicada apenas em 1985, exalta de forma poética o conteúdo metafísico da doutrina católica, da qual se foi aproximando a partir dos anos da II Guerra Mundial, o que levou ao seu afastamento de Evola que o considerava entregue “a uma espécie de cristianismo vedantizante”.
De Giorgio faleceu em 27 de Dezembro de 1957, de causas naturais, na localidade piemontesa de Mondovì.
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Terminaremos esta breve evocação citando o próprio De Giorgio, que se referia aos modernos nos seguintes termos: “Sempre mais rápidos, sempre mais declives, queimai todas as metas, rompei todos os diques. Soltai as rédeas. Tomai os louros das vossas conquistas. Correi com asas sempre mais rápidas, com orgulho sempre mais despregado, com vossos impérios com vossas democracias. A fossa deve ser cheia e precisa-se de esterco para a nova árvore que brotará fulminante do vosso final”. Pois bem, aqui está resumida aquela que deve ser também a nossa atitude perante o mundo em ruínas que nos rodeia.

― Guido Lupo Maria De Giorgio: PRESENTE!

(Texto lido durante a cerimónia de Solstício de Inverno de 2011 da Legião Vertical)

1 Response to "Solstício de Inverno"

  1. Anónimo says:

    A vossa preseverança é louvável mum meio de inconstantes e incontinentes

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