Texto do Bruno Oliveira Santos sobre o Prof. Brito

«Vivemos desde a juventude na ilusão da imortalidade. São os funerais dos amigos que nos alertam para o efémero da existência. Mais ainda quando tais actos de despedida se realizam no próprio dia do nosso aniversário. Lembrei-me disso hoje no enterro de António José de Brito, um dos meus compinchas mais velhos, considerado por gente insuspeita como um dos grandes pensadores portugueses -- um ser re...splandecente de cultura, erudição, inteligência e sentido de humor.

Devido a preconceitos vários, quase ninguém se deu conta em Portugal da importância do seu pensamento e obra filosófica: os estudos sobre a noção principal de "insuperável", a natureza dialéctica do processo da razão e da própria filosofia, a noção de fundamentação em filosofia, a crítica do relativismo, os textos sobre o argumento ontológico, a refutação do "sentido da História" ou a sua concepção de direito natural. Quando o seu nome surdia na imprensa era geralmente para preencher manchetes de folclore político, tão do agrado dos periodistas, pouco dados à especulação metafísica.

Por esta hora triste, já tenho saudades das noitadas de filosofia, doutrina política e crítica literária que passávamos juntos em casa do Alberto Araújo Lima e noutros locais ainda menos recomendáveis do Porto.

Enfim, um belo programa para dia de aniversário. Por isso, em meu auxílio, trouxe à lembrança uma frase do "Sept couleurs", de Robert Brasillach: "Un cimetière, c'est comme un jardin". Foi assim que tentei olhar hoje para o Prado do Repouso. E lá consegui ver um jardim debruçado sobre o Douro.»

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