Alea jacta est!
No
seu “Cavalgar o Tigre”, manual para os aristocratas de espírito numa
época de dissolução, Evola lembra-nos que os estóicos - pela voz de
Séneca - entendiam que era aos mais capazes que os deuses reservavam as
provas mais duras.
“Séneca dizia que nenhum espectáculo é mais
aprazível para os deuses do que o do homem superior a enfrentar a
adversidade. Só aí pode conhecer a sua força – e Séneca acrescenta que
são os homens de valor que são enviados para as posições mais arriscadas
ou para as missões mais difíceis, enquanto os indignos e os fracos são
deixados para trás.” (pag 58, versão inglesa, Ed. Inner Traditions)
Esta
ideia que os estóicos cultivavam e que Nietzsche - grande recuperador
da tradição europeia - retomará, com o seu conceito de amor-fati (amor
ao destino) ou com alguns dos seus conhecidos aforismos (“Da Escola de
Guerra da Vida - o que não me mata torna-me mais forte”) é, na verdade, a
expressão filosófica de uma ideia cara à tradição imemorial dos povos
europeus, manifestada desde os primórdios na sua religiosidade.
Quando
se questionavam por que razões permitiam os deuses o advento dos
infortúnios sobre os homens, os gregos lembravam os adágios da sua
tradição: é no infortúnio que os deuses vêem a grandeza dos homens e se
os homens não fossem sujeitos a enfrentá-lo, seriam incapazes de se
diferenciar, de se erguer da mediocridade.
Na antiga tradição
europeia, o que a divindade pede dos homens não é, portanto, a humildade
em troca da salvação, é que nos momentos difíceis se comportem à
altura, com coragem e dignidade. São os homens que o conseguem que são
os predilectos dos deuses. E é por isso que na antiga tradição nórdica
são os homens superiores e aqueles que tombaram em combate que ascendem
ao Valhala para junto dos deuses.
Na sua obra-magna sobre as
atitudes religiosas dos povos indo-europeus, Hans F. Gunther recorda-nos
essa característica distintiva da nossa tradição primordial:
“Faz
parte da força espiritual dos indo-europeus – e isto é testemunhado
pela grande poesia destes povos e, acima de tudo, pelas suas tragédias –
sentir profunda alegria no destino – na tensão entre as limitações do
homem e a infinidade dos deuses. Nietzsche chamou a esta alegria
amor-fati. Em especial aqueles de entre os indo-europeus com uma alma
rica sentem – precisamente no meio do turbilhão dos golpes do destino –
que a divindade lhes concedeu um grande destino perante o qual devem
provar o seu valor (…). Mas esta alegria perante o destino, sentida
pelos indo-europeus, nunca se transforma em aceitação da sorte ou em
fatalismo.” (capitulo 3)
Somos hoje as testemunhas vivas do ocaso
de uma era longa que foi marcada pela grandeza dos povos europeus e
espera-nos agora um tempo de decadência que nos colocará perante grandes
dificuldades.
É então o momento de nos lembrarmos da nossa
tradição mais profunda e nos enchermos de alegria, pois é sinal de que o
destino se prepara para nos testar e que os deuses nos escolheram e nos
concederam uma grande honra.
Não é tempo de nos ajoelharmos,
humildes e culposos, em súplicas à procura de redenção, é tempo para
agradecermos a dura prova que os deuses nos propõem, porque,
independentemente do final, o que importa é que nos mostremos à altura
do desafio, de pé, orgulhosos perante o destino e dispostos ao combate.
Alea jacta est!
Rodrigo Penedo
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