Como construir um espírito de equipa?
As unidades militares de elite são um exemplo perfeito de organizações ou grupos no qual o espírito de equipa é fundamental (trata-se, de facto, de uma questão de vida ou morte). Vamos por isso recorrer ao que a literatura especializada da área tem dito sobre este tema.
«Pequeno é lindo»
A pesquisa feita durante a Guerra da Coreia chegou à conclusão de que o tamanho ideal para um grupo de combate era o algarismo, de preferência em número entre 3 e 8, sendo que 5 foi considerada a dimensão ideal.
Isto acontece porque quando um grupo cresce demasiado a coesão interna do mesmo tende a diminuir acentuadamente. Isto fica a dever-se ao facto de a unidade ser tão grande que se torna impossível que todos os seus membros tenham contactos entre si e desenvolvam laços pessoais.
Na ausência destes laços pessoais de confiança, o grau de variação das atitudes e expectativas dentro do grupo tende a ser bastante grande, conferindo pouca homogeneidade ao grupo e, consequentemente, pouca coesão, o que se traduz numa certa “descoordenação”. Na realidade, quando um grupo é mais pequeno, o grau de homogeneidade é maior, e todos tendem a pensar do mesmo modo, o que elimina as tensões próprias de grupos maiores, em que uma parte do grupo pretende agir de um modo e outra parte de outro. O grupo pequeno tem por isso menos tensões internas e um grau de identificação entre os seus membros maior.
Os Marines, por exemplo, regem-se pela chamada “regra de três”, que significa que cada líder nunca tem mais do que três homens ou unidades sob a sua responsabilidade directa. O que isto significa, na prática, é que cada um sabe perfeitamente quais são as suas responsabilidade perante quem, o que cria uma relação apertada uns com os outros e uma dedicação para com a rede imediata de três. Já o SAS utiliza o chamado sistema “buddy-buddy” (parceiro-parceiro), em que cada homem é responsabilizado por proteger o parceiro e assumir o seu lugar caso seja necessário. O que isto significa é que cada homem sabe que há alguém a olhar por ele, criando um efeito psicológico de segurança.
Autodomínio
O autodomínio é outro elemento fundamental para o sucesso de um grupo, já que o comportamento em grupo tende a ser menos controlado que o comportamento individual. Assim, um grupo pode ser muito mais facilmente afectado por emoções fortes, como a raiva cega, do que um indivíduo isolado. Além disso, os grupos tendem a ser emocionalmente mais tensos e a permanecer assim durante mais tempo do que os indivíduos. Basta pensar que as atrocidades de guerra são quase sempre cometidas em grupo e muito raramente por indivíduos isolados.
A melhor forma de conferir a um grupo um elevado grau de autodomínio passa pelo treino recebido, que deve ser tão duro e realista quanto possível, não só para enrijecer os homens de um ponto de vista físico mas também psicológico, habituando-os a ligar com o stress e a violência, de modo a que estes se tornem parte normal do seu comportamento.
Sentido de comunhão
Mais uma vez, a pesquisa feita durante a Guerra da Coreia demonstrou que os grupos mais eficazes eram aqueles que apresentavam um elevado sentido de comunhão e identificação entre os seus membros e a unidade. Mas, como é natural, é impossível obrigar os homens a gostar uns dos outros. Esse sentido de comunhão só pode ser atingido através de várias experiências, rituais e comportamentos que as unidades de elite fomentam. Vejamos quais:
- Pertencer a uma elite
O sentimento de pertencer a uma elite, a uma tropa especial e diferente da tropa comum, é um poderoso elemento de identificação entre os membros da unidade de elite. Por forma a reforçar este sentimento de pertença, por um lado, e de diferenciação, por outro, são utilizados uniformes e insígnias especiais bem como expressões pejorativas para designar os outros. Os membros do Regimento Britânico de Pára-quedistas, por exemplo, referem-se a todos os outros regimentos como “crap hats” (chapéus de merda, em alusão às boinas caqui).
Por outro lado, a tropa de elite comporta-se como uma grande família, prestando auxílio mútuo a todos os seus membros, independentemente de ainda se encontrarem no activo ou não, seja em termos financeiros ou pessoais.
- Sobreviver ao treino
O treino de elite é extremamente duro e a simples experiência de partilhar as mesmas esperanças e suportar tribulações e dificuldades cria um laço muito forte entre os soldados. Além disso, a dureza do treino exclui, naturalmente, aqueles que não se adaptam e apresentam tendências anti-sociais prejudiciais ao grupo.
- Sobreviver ao combate
O combate, a experiência de enfrentar a morte em conjunto, cria também um laço muito forte entre os homens. São conhecidos casos de soldados que morrem a tentar recuperar os corpos de camaradas caídos, tal é o espírito de corpo que se estende para além da vida.
- Rituais
Finalmente, os rituais próprios dos corpos de elite proporcionam mais um elemento de coesão e identificação. São, a este respeito, especialmente relevantes as cerimónias de iniciação e o enterro dos mortos. As cerimónias, muitas vezes vistosas ou complexas, conferem à unidade um sentimento intenso de orgulho nas suas capacidades.
O membro da equipa de elite
Já vimos alguns dos elementos indispensáveis à construção de um forte espírito de equipa, só nos falta então ver quais as características típicas do membro da equipa de elite.
Primeiramente, o membro da equipa de elite não pode demonstrar características anti-sociais, falta de coragem, paranóia ou mitomania, já que estas características tendem a desmotivar e a repelir os restantes e a criar clivagens no moral e problemas de comunicação.
Pela positiva, chegou-se à conclusão de que os membros individuais do grupo deveriam possuir um quantidade significativa de características e experiências comuns. Além disso, um carácter aberto e afável, aliado a uma força mental capaz de resistir bem às adversidades é fundamental, já que este tipo de indivíduo tem o efeito benéfico de inspirar os outros à sua volta que, por sua vez, tentarão comportar-se à sua altura, imitando o seu comportamento. Outro factor que se descobriu ser relevante é a origem social (supostamente uma origem social comum implica a existência de uma “linguagem” comum sobre a vida e as experiências). Finalmente, um elevado grau de disciplina do tipo da caserna (alojamento limpo e arrumado, higiene pessoal, prontidão) parece também exprimir-se numa boa atitude de combate.
Nada de maçãs podres
Tudo o que vimos até agora pode resumir-se numa só ideia: nada de “maçãs podres”. O treino, os padrões de exigência, as dificuldades, etc., têm como consequência prática que quem não se adapta bem ao grupo não tem hipótese de chegar ao fim e fazer parte da equipa de elite. Maturidade, entrega, autodomínio, capacidade de sofrimento, vontade e persistência são características inerentes ao elemento de elite e tudo o que vimos até agora é concebido precisamente para refinar estas características naqueles que as possuem e excluir sem apelo nem agravo aqueles que se revelarem incapazes de as desenvolver.
Artes marciais
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Sobre o discurso contra a islamização da Europa
Contudo, se o discurso contra a islamização da Europa que, sobretudo nos últimos anos, se disseminou preferencialmente nalguns sectores da direita nacionalista, tem muitas razões, vive também de muitas manipulações, ilusões e alucinações.
O propósito deste texto não é amenizar as razões e a premência do combate contra a islamização da Europa mas expurgá-lo das falsas questões e das manipulações que frequentemente o permeiam.
O discurso contra a islamização da Europa pode ter três grandes grupos de aderentes, aqueles a quem a identidade colectiva europeia não interessa para além daquilo que possa interferir com os seus interesses e liberdades individuais: nesse caso o islão pode ser visto como uma ameaça a isso. Aqueles que acham que a Europa é uma comunidade colectiva de adesão a uma determinada doutrina com a qual o islão choca: neste grupo poderão estar, por exemplo, muitos cristãos que não têm mais qualquer interesse na defesa da Europa que vá para lá da esfera da sua fé religiosa. E, por fim, aqueles que se batem pela defesa integral da identidade europeia. E são estes que me interessam e é a estes que me dirijo.
Um discurso que tem de ser devidamente enquadrado
Antes de mais nada, o discurso contra a islamização da Europa é um discurso que faz muito mais sentido nalguns países do que noutros, porque, apesar de todo o Ocidente estar a ser, autenticamente, invadido por uma imigração massiva sem paralelismo na história da humanidade, só nalguns países é que uma parte substancial dessa imigração é islâmica. Assim, falar de islamização de Portugal ou da Irlanda, para dar alguns exemplos, é pouco menos que ridículo. Mas faz sentido falar desse risco em países como a França, a Bélgica ou a Holanda porque as populações vêem, sentem e sofrem com essa presença islâmica no seu quotidiano.
Não significa isto que a islamização de países europeus não constitua uma séria ameaça para aqueles que não estão a passar directamente por esse processo, porque pela sua vontade expansionista e totalitária, pela radicalidade de vários dos seus sectores, a islamização de alguns países europeus exporia, ou exporá, os outros a essa voragem.
Mas se é legítimo e até necessário alertar para esse perigo, a verdade é que os movimentos identitários e nacionalistas europeus têm primeiro que tudo de se dirigir ao seu povo, à sua realidade social específica, àquilo que faz sentido para a população de que fazem parte. A casa não se começa a construir pelo telhado. Em última análise o combate contra a islamização de certos países da Europa tem sempre de ser travado pelos povos que passam por isso e não adianta de muito haver outros a falarem do exterior contra o facto, porque se não houver vontade e capacidade de resistência nas nações que estão a ser alvo dessa transformação não haverá nada a fazer. Estarmos em Portugal a falar de islamização da Holanda é redundante porque os holandese é que podem resolver o problema e eles estão consciente do que está a suceder, e se não estiverem não o ficarão certamente por haver outros a dizerem-lhes o que está a acontecer na sua própria pátria.
É preciso por isso que, dentro de cada país, os movimentos de resistência saibam enquadrar-se naquilo que são os seus próprios problemas reais e locais antes de pretenderem pensar em cenários futuros ou hipotéticos que os possam vir a afectar. É uma questão de ter presentes as devidas prioridades.
O problema não é a islamização, é a imigração
Desviar o discurso da imigração para a islamização gera confusões doutrinárias graves, porque abre espaço a que a Europa deixe de ser entendida como um espaço com características étnicas e culturais específicas ameaçadas pela imigração não-europeia para passar a ser um espaço de adesão a determinados valores que o islão poderia ameaçar: por exemplo a cristandade ou a laicidade republicana. Ora eu não sou ou deixo de ser europeu por acreditar na mensagem de Cristo ou na tríade de valores celebrizados pela revolução francesa (igualdade-liberdade-fraternidade) e nos seus “direitos humanos”. Estas coisas excluiriam, aliás, alguns dos mais brilhantes pensadores europeus, desde Platão e Séneca a Nietzsche e Heidegger. Ora, o islão ameaça tanto a identidade europeia como a presença de povos africanos ou asiáticos com outras crenças. Todas essas realidades, se a sua presença for significativa, representam corpos estranhos à Europa. E quem não o entender não pode ambicionar mais do que uma Europa amputada, uma mixórdia que não é continuadora e respeitadora da sua essência e das suas origens.
É fundamental, por isso, perceber as hierarquias do problema e subalternizar a crítica da islamização europeia à crítica, mais ampla, da imigração desregrada. Se isso não for feito, o resultado não será apenas a confusão doutrinária no interior dos movimentos nacionalistas mas também a confusão – para o exterior – com determinadas forças que são contra a islamização da Europa mas que, ao mesmo tempo, são indiferentes à defesa da identidade integral europeia…isto quando não lhe são manifestamente adversas.
Os riscos que advêm daqui são múltiplos: erros de análise na distinção entre amigos e inimigos, desencaminhamento de militantes, atracção de outros pelas razões erradas, desacerto nas batalhas a travar e no objectivo a atingir, etc.
Se o combate à imigração e o combate ao islão não forem devidamente enquadrados e hierarquizados, caminhar-se-á progressivamente para uma “reductio ad islam” que resultará em achar que esse é o combate central e que, findo esse, os objectivos estão alcançados. Dessa forma, mesmo para aqueles que conseguissem entender que o problema do islão na Europa provém sobretudo do problema da imigração, a solução seria, quanto muito, a mera redução da imigração islâmica, sem mais considerações contra as outras proveniências dos movimentos migrantes.
As forças subversivas por detrás do discurso contra a islamização da Europa
Por detrás do discurso contra a islamização da Europa estão muitas forças que não têm relação com a concepção de Europa própria dos ideários nacionais e identitários.
Grupos cristãos: dentro da incontável variedade de famílias cristãs (todas elas convencidas de serem portadoras da Verdade e do único caminho que salva do Inferno) existe de tudo, desde os que têm colaborado, pelos mais variados motivos de índole bíblica, com a presença islâmica nas terras europeias aos que se lhe opõem vendo nisso uma ameaça, lógica, diga-se de passagem, à força do cristianismo. Mas mesmo estes últimos não são forçosamente parte da “resistência europeia”. Porque ser-se cristão não é condição necessária, e muito menos suficiente, do “ser europeu”. Para muitos deles o que lhes interessa defender é a força da sua fé religiosa e a sua comunidade é a de todos os homens – de todo o mundo – que partilham a sua espiritualidade. Podem não querer islâmicos na Europa mas apoiam frequentemente a imigração não-europeia cristã ou potencialmente convertível. A luta pela identidade europeia não é essa.
Lobbies judaicos: Por detrás das grandes transformações políticas que minaram a coesão étnica e cultural das nações europeias encontrou-se frequentemente uma forte presença de lobbies judaicos. Durante séculos o judeu foi o elemento estranho no seio das nações europeias, e durante séculos sentiram as consequências dessa diferença. Ao fomentarem politicas de imigração não-europeia e ao combateram as manifestações sociais do tradicionalismo europeu os judeus conseguiram assim atenuar ou até eliminar aquilo que os tornava um elemento estranho, porque numa sociedade sem homogeneidade cultural e anti-tradicional, eles passaram a ser apenas mais um grupo no meio de tantos outros, a partir do momento em que o multiculturalismo e a diferença étnica se torna a norma a sua diferença extingue-se e cessam as barreiras à afirmação do seu poder. Mas se lhes interessou a imigração massiva para a Europa não lhes interessa a parte islâmica dessa imigração, porque o islão representa, por várias razões, uma ameaça aos seus interesses e ao seu estatuto na Europa bem como à segurança de Israel (e não nos esqueçamos que a Europa tem armas nucleares). Para os lobbies judaicos importa, por isso, travar a islamização da Europa mantendo, contudo, os factores (entre os quais a imigração massiva) que transformam a Europa, não numa realidade histórica etno-cultural, mas numa ideologia política assente numa visão universalista e aberta à diversidade cultural e religiosa, ou seja, a eles. Estes não são, obviamente aliados na luta pela identidade europeia.
Interesses norte-americanos: Tal como no caso dos lobbies judaicos (que aliás, hoje actuam, e por vezes se confundem, com a política externa norte-americana) também aos pensadores da hegemonia global norte-americana interessa uma Europa assente num modelo globalizado e multicultural, desde que não exista o risco de islamização. Isto porque o Islão é hoje uma das grandes forças de resistência à geopolítica global do Império norte-mericano. Aos EUA interessa uma Europa que se insira na lógica do que é o modelo societário dos EUA, em que o mercado global acaba por ser o único delineador de identidades, um mundo em que as pessoas são antes de tudo produtores e consumidores, de individualismo radical, em que a economia determina os valores. A islamização do continente europeu não representaria apenas uma ameaça à geopolítica global e ao poderio militar norte-americano, mas também uma ameaça à lógica mercantilista do seu modelo de sociedade. Conclusão: Também nalguns sectores políticos estado-unidenses existem os que lutam contra a islamização da Europa, mas também esses são ferozes inimigos da identidade europeia.
Existem depois outros grupos, feministas, homossexuais, ateus, libertários, etc., que, por razões que têm a ver com o seu posicionamento político histórico, sentem ainda relutância em aderir a um combate que, lá no fundo, interpretam como sendo contra o “outro-diferente-excluído”. Mas assim que o islão começar a “excluir” a “diferença” desses grupos, mais e mais entrarão nessa luta, em defesa dos seus interesses individuais, não das identidades históricas nacionais da Europa.
Como é que as forças subversivas actuam?
Uma parte da estratégia delineada pelas forças subversivas passa por influenciar ou infiltrar os movimentos nacionalistas, uma vez que sabem que são estes os mais receptivos e activos no combate contra os factores de destruição da Europa tradicional. E o islão é, sem margem para dúvidas, uma entidade estranha e perigosa. Esta tentativa de manipulação dos meios identitários faz-se de diversas maneiras, das quais destacamos:
A internet: Uma parte substancial desse trabalho de manipulação do discurso nacionalista faz-se através de sites e fóruns na internet que se focam, 24 horas sobre 24 horas, na colecção de notícias e textos que retratam o lado mais negro do islão. Algumas dessas notícias e alguns desses textos são verdadeiros outros são falsificações mais ou menos grosseiras (por exemplo, ainda me lembro, há uns tempos, da forma como vários sites divulgaram que no Irão os judeus eram obrigados a usar uma estrela amarela na roupa, notícia falsa que acabou por não ser desmentida pela maioria dos que inicialmente a divulgaram). Tudo vale. Estes sites funcionam como centrais de propaganda ininterrupta que para além de divulgarem fornecem material para ser divulgado por outros sites. Muitos dos que vão lá buscar material são nacionalistas que depois acabam por funcionar como um elo na cadeia de transmissão daquela propaganda, demasiadas vezes sem fazer a devida triagem ou confirmar a credibilidade das fontes.
Não é também por acaso que a maior parte desses sites são escritos em inglês e têm uma lógica bastante simplista ou até maniqueísta. Por um lado o inglês, pela sua universalidade, facilita a divulgação transversal por todos os países do material ali publicado, por outro lado, muitos dos contribuintes com comentários e textos para esses sites são, “estranhamente”, anglófonos. Isto apesar dos sites estarem sedeados nos mais diferentes países. Por fim, os nacionalistas que são mais permeáveis àquela publicidade são naturalmente os que, para além da sua língua, apenas lêem em Inglês. Privados do que se publica em francês, italiano, espanhol ou alemão, isto é, dos textos escritos com fidelidade à tradição continental europeia, com coerência e força doutrinal e cientes das reais ameaças à identidade da Europa, limitam-se a sorver o que se publica em inglês, onde, regra geral, encontramos um grande desconhecimento da realidade e da tradição política da Europa e um pensamento estruturado em função do que foram e são as tradições e problemas políticos anglo-saxónicas com as suas peculiaridades próprias e o seu discurso de inspiração liberal. Neste sentido, os sites nacionalistas que bebem naqueles acabam por funcionar, desadequados ao espaço político onde estão inseridos, como um elo de deformação da doutrina nacionalista europeia, e um factor de desencaminhamento e confusão para os que os lêem.
Organizações e partidos nacionalistas: Desde o final da segunda guerra mundial que as tentativas de manipular por dentro as organizações e partidos nacionalistas foram implementadas, com vários objectivos, controlá-las, desacreditá-las ou, simplesmente, usá-las em combates que servem outros interesses externos. Isto começou através da CIA com as chamadas redes “Gladio” e tem hoje alguma expressão no discurso anti-islamização. Em troca da possibilidade de apoios, acesso aos media ou respeitabilidade política, os partidos e organizações nacionalistas são incentivados a focarem-se no problema da islamização da Europa, relegando para plano secundário outros que são igualmente dramáticos para a sobrevivência do continente. As organizações e partidos nacionalistas, mesmo quando conscientes disso aceitam por vezes o trade-off, afinal, a islamização não deixa de ser um grave problema e, ao mesmo tempo, a sua crítica pode ser publicamente apresentada em defesa da “democracia ocidental” ou dos “judeus”, ou dos “direitos das mulheres e dos homossexuais” (tudo isso ameaçado pelo expansionismo islâmico), que são discursos e justificações mais fáceis.
Às forças subversivas interessa sobremaneira controlarem os movimentos nacionalistas, por um lado porque sabem que é dali que poderá vir o combate e a denúncia dos seus interesses, e assim interessa-lhes re-direccionar esses movimentos para outros sentidos e outras lutas, e por outro lado porque podem dar expressão a um discurso politicamente incorrecto sem se prejudicarem demasiado, servindo-se dos nacionalistas e identitários.
É preciso também saber distinguir, para evitar maiores equívocos, entre a utilização por parte de forças subversivas dos movimentos legitimamente interessados na defesa da Europa e a existência de personalidades, publicações e organizações que se focam quase exclusivamente no combate ao islão mas que não têm relação alguma com os movimentos nacionais e identitários da Europa.
Conclusão – como agir:
A denúncia da islamização da Europa é importante por parte dos movimentos de “resistência europeia” mas ela deve ser devidamente pensada e enquadrada.
Nos Estados onde esse problema não se sente localmente, o discurso tem de se centrar noutros problemas e a crítica à dita islamização deve ser inserida no risco que representaria para todos os países europeus a islamização de parte do continente. É fácil de perceber que constituiria um risco para a liberdade e a cultura dos países limítrofes a existência de uma potência ao serviço da fé islâmica no seio da Europa.
Nos Estados onde esse problema se faz sentir efectivamente o discurso contra a islamização da Europa é mais premente mas deve ser inserido no problema mais amplo da imigração e não poderá nunca sobrepor-se ao primeiro. A islamização não pode ser denunciada como um perigo para o modo de vida ocidental (o que leva a concluir que a imigração “não-islamica”, não sendo contrária às liberdades individuais do Ocidente, seria bem-vinda ou um “não-problema”) mas como uma ameaça à identidade histórica da Europa com a mesma gravidade que é colocada por qualquer tipo de imigração não-europeia, cada uma com os seus problemas específicos. É isto que, em geral, é feito nos países onde a doutrina nacionalista está mais consolidada e é mais madura, como França ou Itália, mas não me parece que seja isto que é feito, genericamente, na Holanda, por exemplo.
Saber distinguir os amigos dos inimigos e saber escolher os aliados é fundamental. É preciso separar o trigo do joio. Se fora da nossa área há interesses politico-económicos que falam contra a islamização da Europa, óptimo, mas saibamos servir-nos deles e não servi-los a eles. É preciso alertar os nossos para o facto de certas convergências que possam ocorrer a este nível serem meramente ocasionais e situadas num determinado contexto, muitos dos que falam contra a islamização da Europa pretendem a destruição do nosso continente por outras formas, os nossos objectivos não são os deles, a Europa dos movimentos nacionalistas e identitários não é a Europa dos interesses norte-americanos, de Israel e dos judeus, da Igreja Católica ou de alguns esquerdismos republicanos de “causas fracturantes”. Se os discursos se cruzarem não esqueçamos que fora dessa batalha a nossa causa não é a causa deles e muitas vezes a causa deles é a morte da nossa causa.
Ler e procurar informação fora do mundo anglo-saxónico. Não significa isto que em Inglaterra e nos EUA não existam homens dos nossos, a travarem a mesma guerra e com verdadeira formação doutrinária. Mas se devemos também estar abertos a esse espaço cultural, não podemos de forma alguma cingir-nos a ele porque a verdade é que a essência da nossa tradição política reside na Europa continental, foi aí que foram escritas as grandes obras da nossa área ideológica e é daí que continuam a vir os grandes textos de orientação política para compreender o nosso mundo.
Desconfiar daqueles que pretendem dividir e transformar a área nacionalista num combate entre simpatizantes de Israel e simpatizantes do mundo islâmico, desperdiçando as energias da área nessa luta. O confronto entre os judeus e os islâmicos não é uma preocupação nossa excepto na medida em que afecte o nosso continente. E nesse sentido, uns e outros têm sido, embora de formas diferentes, forças de subversão no interior da Europa.
Impedir que o combate à islamização conquiste e monopolize o discurso nacionalista. A islamização da Europa não invalida que o continente esteja ameaçado por outros factores igualmente perigosos: a hegemonia dos poderes económicos sobre o homem, a globalização, o modelo societário norte-americano, a imigração não-europeia de todos os tipos, a força parlamentar e empresarial de “sociedades secretas”, a decadência dos valores, a manipulação pelos meios audiovisuais, a perversão do Estado, entre outros.
Um judeu visita Auschwitz
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Evola, nós e o Islão
Todavia a «grande guerra santa» está para a «pequena guerra santa» como a alma está para o corpo; e é fundamental para a compreensão da ascese heróica ou da «via da acção» entender a situação em que as duas se transformam numa única, tornando-se a «pequena guerra santa» um meio pelo qual se realiza uma «grande guerra santa» e vice-versa: a «pequena guerra santa» – a exterior – tornando-se quase uma acção ritual que exprime e testemunha a realidade da primeira. Com efeito, nas suas origens o Islão ortodoxo concebeu uma única forma de ascese: a que se liga precisamente ao jihad, à «guerra santa»”.
Ora bem, depois deste precioso auxiliar de memória, que nos fique bem claro que o Islão foi estudado, visto, e reconhecido por Evola como uma doutrina, também ela, Tradicional pelo menos na sua génese. Convém também aqui recordar que outro nosso tradicionalista, René Guénon, termina sua vida convertido ao islamismo.
Podemos imaginar se Evola ou sobretudo Guénon, o convertido, teria hoje, perante o islamismo que nos entra em casa pelos telejornais, a mesma visão que o levou a abraçar dita religião. Da mesma forma poderemos imaginar se o nosso Evola apoiaria a actual barbárie do radicalismo islâmico.
Não sabemos, podemos especular, mas não passaria disso. Mas uma coisa sabemos: na devida altura (também em «Revolta contra o Mundo Moderno») o nosso autor desmascarou, ridicularizou e atacou em todos os sentidos a América e o americanismo. De igual modo atacou o comunismo e, como quem mata dois coelhos de uma cajadada, escreveu: “Aqui Estaline e Ford dão-se as mãos e, naturalmente, estabelece-se um círculo vicioso: a estandardização inerente a todo o produto mecânico e quantitativo determina e impõe a estandardização de quem o consuma, a uniformidade dos gostos e uma progressiva redução a poucos tipos, que vai de encontro às tendências que se manifestam directamente nas mentalidades. E na América tudo concorre para este fim…”
Se o comunismo assumiu o seu ateísmo, os americanos ao contrário justificam o seu modo de vida, totalmente anti-tradicional, completamente desprovido de qualquer sentido superior, com um sempre presente “Deus Abençoe a América!”
Que com isto não nos restem dúvidas: se Evola atacou esta aberração que pretende submeter o mundo ao seu materialismo ateu, cristão e judaico com pretensa justificação divina, no momento actual que a besta está, como comprova o processo globalizador em curso, na sua maior força, Evola só poderia dizer: “Eu não vos avisei? Era disto, destas ruínas que eu falava e é perante isto que temos que permanecer de pé.” (Mas de pé ao lado de quem?)
Perante isto, e enfrentando esta besta maléfica e desagregadora surge uma força capaz de, se não combatê-la abertamente, assustá-la, intimidá-la, fazendo o tigre sacudir-se de raiva, e mostrando toda a sua maldade sempre que procura retaliar.
Falamos do Islão e sobretudo desse chamado radicalismo islâmico que, tanto quanto se sabe, atira aviões de passageiros contra torres cheias de gente, faz explodir comboios e autocarros, mata indiscriminadamente mulheres e crianças; e com estes actos, aparentemente tresloucados, uns fanáticos dizem acreditar terem umas dezenas de virgens à sua espera no paraíso!
Será esta a guerra santa, a jihad? Eles acreditam que sim e que Alá está do seu lado, do lado dos mártires.
Não sabemos se esta era a tradição guerreira de que Evola falava, mas temos sérias e legítimas dúvidas.
Como brancos e europeus que somos, e nesta Europa vivendo, sabemos que o nosso inimigo histórico é o Islão (as suas hostes ocuparam a nossa península durante mais de sete séculos), mas como Tradicionalistas também sabemos que só uma força poderosa, religiosa (espiritual) e pragmática, pode pôr cobro a esta modernidade última: dos abortos indiscriminados, do “casamento” gay, da liberalização e descriminalização das drogas, da banalização total do corpo da mulher (e do homem) pelo negócio do sexo, da total imoralidade económico-financeira, dos consecutivos ataques à tradicional organização familiar, da proliferação das máfias, do regresso em força da pirataria, da escravatura (com outro nome, claro) através da imigração desregrada, enfim da democracia…
Para a gente que partilha da nossa concepção do mundo, Tradicionalistas portanto, não devem existir perigos acerca de possíveis confusões de valores, pois estes temo-los bem claros. Ou seja, na “teoria”, na Metafísica, estamos todos (mais ou menos) de acordo, mas quando passamos para a prática, cada um parece apontar para seu lado.
Será o Islão a nossa salvação?
Vem-me à memória aquela passagem do filme «Taxi Driver»: “Sonho com um dilúvio que limpará a escumalha das ruas…”
O radicalismo islâmico pode parecer para alguns “de nós” o dilúvio necessário mas é com certeza um pacto perigoso.
O fim das coisas é importante, mas os meios para os atingir devem ser, para nós, aquilo que realmente marca a diferença entre a Elevação e a barbárie.
Como dizia Evola: fazer perigosas concessões hoje, é perdermos o amanhã.
Saibamos portanto permanecer de pé, perante TODAS as ruínas.
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1. Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1989, p. 167.
Deus maldiga a América
Alá maldiga a América, que escraviza e mata os seus filhos.
Brahmán maldiga a América e que o décimo avatar de Vihsnú restaure a Ordem sobre a Terra.
Amaterasu-o-Kami maldiga a América, que desintegrou os seus filhos dentro de um cogumelo de fogo.
Manitú maldiga a América, que executou o genocídio do seu povo livre.
Viracocha maldiga a América, que mantém a sua gente na escravatura.
Horus maldiga a América, que fez em pedaços o corpo do Egipto.
Ahura-Mazda maldiga a América, que verteu o sangue dos seus filhos no Fogo Sagrado.
Odin maldiga a América, que desonrou a honra de qualquer guerreiro.
Zeus maldiga a América, inimiga da Europa no Bem e na Beleza.
O Grande Céu maldiga a América, que sujou o mundo por cima e por baixo Dele.
Todo Bodhisattva maldiga a América, pátria da mentira, inimiga de toda a Verdade.
Gaia maldiga a América, que deforma e destrói a Mãe-Terra.
Que qualquer Deus, conhecido ou desconhecido, maldiga a América, que prepara a aniquilação do mundo.
Satã maldiga a América, que usurpou até o seu nome.
Homem maldiz a América, a Besta imunda inimiga do Homem.
A ideia de Ordem
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Solstício de Inverno
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Recordamos desta feita mais um expoente dessa Valentia, Nobreza, Coragem, Entrega Incondicional… Fidelidade.
Evocamos nesta cerimónia Léon Degrelle, esse grande combatente, a quem alguém tão certeiramente chamou “o último dos irredutíveis”.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando nas estepes geladas da Ucrânia e da Rússia combateste corpo-a-corpo, olhos nos olhos, a fera bolchevique.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando à distância da baioneta, a que tantas vezes chegaste, saíste vitorioso.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando te alistaste voluntário para a frente de combate como simples soldado raso, rejeitando o privilégio de começares como tenente.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando as tuas cicatrizes de guerra são as mais preciosas condecorações.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando te expunhas à metralha inimiga para salvar um camarada.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando a tua fidelidade se mostrou sempre mais forte que o fogo e lutaste até ao fim.
Ser legionário é ter-te como exemplo: Quando tudo terminou, a Guerra perdida, a família assassinada pelos infames vencedores, tu não te vergaste, continuaste vertical, altivo, quiçá arrogante, não importa, pois roçaste uma dimensão supra humana.
Ser legionário é ter-te como exemplo.
A Honra é nossa pátria a Fidelidade nossa mãe!
I Jornada de Convívio - mais fotos
I Jornada de Convívio
José António Primo de Rivera - Presente!
O que leva então o jovem José António a assumir a luta política, a lutar “contra as suas inclinações mais profundas”? Em primeiro lugar defender a honra e memória de seu pai, General Primo de Rivera, diariamente denegrida e emporcalhada. É assim que em 1931, em artigo publicado no jornal ABC proclama: “O povo de Madrid negar-me-á os seus votos? Mais um deputado republicano ou socialista não faz falta nas Cortes, porque nem a República nem o Partido Socialista têm falta de quem os defenda. Mas a memória do meu pai, sim. E este povo madrileno – que o meu pai tão bem entendia e com quem tão cordialmente comunicava – não pode deixar que o condenem sem antes ouvir a sua defesa. Um lugar nas Cortes para defender a memória do meu Pai!”
Progressivamente, durante o período que vai de 1931 a 1933, a sua “consciência do momento histórico em que vivia” acentua-se, levando-o à fundação da Falange em Outubro de 1933. Já não é a defesa da memória do pai que o move, mas sim a ideia de serviço: serviço a Espanha e a um Ideal redentor. É assim que no discurso fundacional da Falange, a 29 de Outubro de 1933, proclama: “O nosso movimento não é apenas uma maneira de pensar, é uma maneira de ser. Não nos devemos propor apenas a construção, a arquitectura política. Temos que adoptar, perante a vida, em cada um dos nossos actos, uma atitude humana, profunda e completa. Esta atitude é o espírito de serviço e sacrifício, o sentido ascético e militar da vida. Assim sendo, que ninguém pense que aqui recrutamos para oferecer recompensas; que ninguém pense que nos reunimos para defender privilégios.”
De facto, a Falange não pretende defender privilégios, nem manter o status quo. Pelo contrário, pretende a superação revolucionária da situação presente. Criticando ao mesmo tempo o liberal-capitalismo e o comunismo, a Falange e José António pretendem, através do nacional-sindicalismo, “a substituição do capitalismo”, que “só poderá dar-se quando forem alteradas (…) as formas e os centros do poder dentro da empresa; isto é, quando a empresa capitalista der lugar à empresa, de propriedade sindical ou não, em que é destruído o dualismo expresso no contrato de trabalho”.
Não tardaram as acusações de bolchevista… Aos que o acusam de bolchevismo José António dá uma resposta cabal: “O anti-bolchevismo é a posição que contempla o mundo sob o signo do espiritual. Estas duas atitudes, que hoje em dia se chamam bolchevismo e anti-bolchevismo, sempre existiram. É bolchevista todo aquele que procura vantagens materiais para si e para os seus dê por onde der; é anti-bolchevista aquele que está disposto a privar-se de satisfações materiais para sustentar valores de qualidade espiritual. Os velhos nobres, que pela religião, pela pátria e pelo Rei comprometiam as suas vidas e os seus bens, eram a negação do bolchevismo. Os que hoje, perante um sistema capitalista que grunhe, sacrificamos comodidades e vantagens materiais para conseguir um reajuste do mundo sem que o espiritual naufrague, somos a negação do bolchevismo. (…) Pelo contrário, aqueles que se aferram ao gozo de infinitas opulências gratuitas, os que consideram mais urgente a satisfação da sua superfluidade que o socorro da fome de um povo, esses sim, intérpretes materialistas do mundo, são os verdadeiros bolchevistas. E com um bolchevismo de espantoso refinamento: o bolchevismo dos privilegiados”.
Nesse mesmo discurso fundacional diz também o seguinte: “Queremos menos palavreado liberal e mais respeito pela liberdade profunda do homem. Porque apenas respeitamos a liberdade do homem quando o consideramos, como nós o fazemos, portador de valores eternos; quando o consideramos revestimento corporal de uma alma que é capaz de se condenar e de se salvar. Apenas quando o homem é assim considerado, se pode dizer que se respeita de verdade a sua liberdade, e ainda mais se essa liberdade se conjuga, como nós pretendemos, num sistema de autoridade, de hierarquia e de ordem”.
Infelizmente, a actividade frenética de José António, enquanto líder e militante, e também a sua morte precoce, com apenas 33 anos e apenas três anos após a fundação da Falange, não permitiram a sistematização do seu pensamento, disperso por artigos, ensaios e discursos, quase todos marcados pelas vicissitudes políticas do momento. No entanto, pensamos não errar ao afirmar que a concepção do homem enquanto portador de valores eternos, o sentido ascético e militar da vida (o “homem metade monge, metade soldado” de que falava), o espírito de serviço e sacrifício, a ideia de autoridade, hierarquia e ordem constituem o núcleo fundamental do pensamento político de José António.
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A doutrina das castas (3/3)
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Não são diferentes os pressupostos que estão na base desse sentimento de desinteresse, da alegria e de são orgulho pelo seu próprio ofício — a ponto de qualquer trabalho, por mais humilde que fosse, poder adquirir o aspecto de uma «arte» — que, como um eco do espírito tradicional, se tem frequentemente mantido entre certos povos europeus [20], até épocas recentes. O antigo camponês alemão, por exemplo, sentia como um título de nobreza o ser cultivador da terra, mesmo que não se elevasse a ver, como no antigo Irão, nesse trabalho um símbolo e um episódio da luta entre o deus da luz e o das trevas. Os membros das corporações e das guildas tinham tanto orgulho na sua tradição profissional como a nobreza o tinha na tradição do seu sangue. E quando Lutero, depois de São Tomás, ensinou que passar de uma profissão para outra para tentar ascender na hierarquia social é contrário à lei de Deus, pois Deus confere a cada um o seu status e tem de se lhe obedecer permanecendo nessa condição, e que portanto a única maneira de servir a Deus consiste em aplicar-se da melhor maneira possível à sua própria profissão — nestas ideias, em que se reflecte, nem que seja através das limitações próprias de um sistema teísta-devocional, o espírito da melhor Idade Média, mantém-se a tradição acima indicada. Com efeito, antes do advento da civilização do Terceiro Estado (mercantilismo, capitalismo), também no Ocidente a ética social, ratificada pela religião, consistia em realizar o seu próprio ser e conseguir a sua própria perfeição dentro dos quadros fixos definidos pela natureza de cada um e pelo grupo a que este pertencia. A actividade económica, o trabalho e o lucro só apareciam justificados na medida em que fossem necessários para a manutenção e para a dignidade de uma existência em conformidade com o status de cada um, sem que surgissem em primeiro plano os baixos interesses e a procura do lucro. E daí que resultasse também um carácter de impessoalidade activa neste mesmo domínio.
Tem-se dito que na hierarquia das castas se exprimiam relações como que de «potência» a «acto». Na casta superior como ideia manifestava-se de modo mais puro, mais completo e mais livre a mesma actividade que na casta inferior apresentava uma forma muito mais condicionada. A este respeito, é conveniente antes de mais denunciar as ideias demagógicas modernas acerca do «espírito de rebanho» dos sujeitos e da falta, nas sociedades tradicionais, do sentido da dignidade e da liberdade dos indivíduos que só a humanidade «evoluída» moderna teria conquistado. De facto, mesmo quando o lugar hierárquico do indivíduo não provinha do reconhecimento espontâneo da sua própria natureza e da fidelidade a esta última, a subordinação do inferior ao superior, longe de ser uma concordância passiva, era quase a expressão simbólica ritual de uma fidelidade e de uma dedicação ao seu próprio ideal, a uma forma mais elevada de si mesmo, que o inferior não podia viver directa e organicamente como a sua própria natureza — svâdharma — mas que no entanto podia eleger como centro da sua acção precisamente através da sua devoção e submissão activa em relação à casta superior [21]. Por outro lado, se no Oriente o sair da sua própria casta só era admitido excepcionalmente [22] e se estava bem longe de confundir um evadido como um ser realmente livre — contudo reconhecia-se a possibilidade de criar, por meio das suas acções, palavras e pensamentos, causas que, em virtude da analogia com o princípio ou com a hierarquia a que se estava votado, podiam produzir um novo modo de ser correspondente precisamente a esse princípio ou a essa hierarquia [23]. Para além da bhakti ou fides dirigida sem mediação para o Supremo, ou seja, para o incondicionado — à bhakti centrada em algo de superior atribuía-se o poder real e objectivo de resolver os elementos do que a tinha alimentado — depois do esgotamento do seu dharma — segundo este mesmo princípio [24] e, assim, e portanto de fazê-lo ascender não exterior e artificialmente — como é o caso na desordem e no arrivismo da sociedade moderna — mas sim profundamente, organicamente, a partir de dentro, de um degrau a outro da hierarquia, como reflexo da passagem do princípio transcendental do ser de uma sua possibilidade para outra.
Por outro lado, no que se refere particularmente a uma ordem social que tinha o seu centro num soberano, até ao Sacro Império Romano subsiste o principio — já defendido por Celso contra o dualismo do cristianismo das origens — de que os súbditos através da sua fidelidade ao seu príncipe podem demonstrar a sua fidelidade a Deus [25]. É uma antiga concepção indo-europeia a do súbdito como um ser que está ligado por um compromisso sagrado e livre à pessoa do soberano; esta fides ou devoção pessoal foi levada, no mundo tradicional, para além dos limites políticos e individuais, a ponto de atingir por vezes o valor de uma via de libertação. «Os sujeitos — salienta por exemplo Cumont a propósito do Irão [26] — consagravam aos seus reis divinizados não só as suas acções e as palavras, mas também os seus próprios pensamentos. O seu dever era uma dedicação total da sua personalidade àqueles monarcas igualados aos deuses. A militia sagrada dos Mistérios é apenas esta moral cívica considerada do ponto de vista religioso. O lealismo confundia-se assim com a fé.» A isto deve-se portanto acrescentar que nas formas mais nítidas e luminosas da Tradição se reconhecia igualmente a este lealismo a virtude de produzir os mesmos frutos que a fé promete. Ainda há pouco tempo se viu, no Japão, o general Nogi, o vencedor de Port Arthur, matar-se com a mulher, à morte do seu imperador, para o seguir nos mesmos caminhos do além-túmulo.
Com tudo isto esclarece-se em todos os aspectos o motivo por que dizemos que o segundo eixo de toda a organização tradicional é — além do rito e da existência de uma elite, não só humana, que representa a transcendência — a fidelidade. É esta a força que, tal como um magnetismo, estabelece os contactos, cria uma atmosfera psíquica, propicia as comunicações, estabiliza as estruturas e determina um sistema de coordenação e de gravitação entre os indivíduos isolados e entre estes e o centro. Quando começa a faltar este fluído, que em última análise tem a sua origem na liberdade e na espontaneidade espiritual da personalidade, o organismo tradicional perde a sua elementar força de coesão, fecham-se caminhos, os sentidos mais subtis atrofiam-se, as partes dissociam-se e atomizam-se — o que tem por consequência a imediata retirada das forças do alto, que deixam ir os homens para onde quiserem, segundo o destino criado pelas suas acções e que nenhuma influência superior poderá já modificar. É somente este o mistério da decadência.
18. O sentido do oráculo aqui citado converge com o ensinamento hindu de que a «idade obscura» — kali-yuga — fim de um ciclo, corresponde, entre outros aspectos, ao período da completa mistura das castas e do declínio dos ritos. Sobre tudo isto, cfr. L. PRELLER, Römische Myth., cit. p. 227-229.
19. PLOTINO, Enn., III, i, 4.
20. A este respeito, pode-se também recordar a máxima do Mânavadharmaçâstra (V, 129): «A mão de um artesão é sempre pura quando ele trabalha.»
21. Cfr. PLATÃO, Rep., 590 d: «É para que este homem [o ser comum] seja governado [interiormente] por uma autoridade semelhante à que governa o homem óptimo, que nós afirmamos que ele tem de servir este homem óptimo, que dentro de si é governado pela parte divina, e não refutaremos que a sua obediência seja um dano para ele… mas é melhor para todos ser-se regido por um governador sábio e divino, melhor ainda se o tiver propriamente dentro de si; senão, que seja regido a partir de fora».
22. Rigorosa e metafisicamente falando, seria necessário para isto «já não ter nenhum demónio», tendo-se transformado a si próprio «no seu próprio demónio»; por outras palavras, seria necessário que o indivíduo humano se identificasse com o princípio transcendental da sua individualidade e do seu nascimento particular. Numa certa medida isto dependeria da via do asceta — samâno ou yogi — venerado pelos indo-arianos acima de todas as castas e desvinculado, aos seus olhos, dos deveres de cada uma delas.
23. No Mânavadharmaçâstra, enquanto por um lado (VIII, 414) se afirma: «Um çûdra, mesmo que seja alforriado pelo seu senhor, nem por isso é libertado do estado de servidão: sendo este estado o seu estado natural, quem poderá libertá-lo dele?» — por outro lado diz-se (IX, 334-335) que o çûdra que obedece incondicionalmente às castas superiores realiza um dharma que não se limita só a dar-lhe a felicidade na terra, como também lhe facilita igualmente «um nascimento numa condição mais elevada». Cfr. Ibid., X, 42: «Graças ao poder da sua ascese, e graças ao mérito dos seus antepassados, cada um, em qualquer idade, pode chegar cá abaixo por um nascimento mais elevado, assim como pode também ser reduzido a uma condição inferior».
24. Cfr. o ensinamento de PLOTINO (Enn., III, iv, 3): «Quando se deixa de viver… é preciso receber de outrem a força vital, dado que [o indivíduo] perdeu a sua; e ele recebê-la-á daquele a quem ele, enquanto vivia, tinha por sua vontade permitido que agisse sobre si e o dominasse, e que era verdadeiramente o seu demónio.» Neste caso particular que nos ocupa, este «demónio» corresponderia ao princípio representado pela casta que era o objecto da sua devoção leal e activa.
25. Cfr. DE STEFANO, Idea Imp. Fed. II, cit., pp. 75-76.
26. R CUMONT, Les religions orientales dans le pagan. romain, cit., pp. XVII-XVIII.