As crises económicas do capitalismo. A política ao serviço da economia
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Francis García faleceu
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NADIE COMO ÉL… REIVINDICACIÓN DE JULIUS EVOLA EN EL 40º ANIVERSARIO DE SU FALLECIMIENTO
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NOTAS:
Resposta a uma insistência sobre o absurdo
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Nacionalismo e patriotismo
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Dialécticas...
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Amamos e lutamos
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Amamos la Libertad. Por eso luchamos contra el liberalismo. Porque no queremos ser una mercancía en la absurda tramoya que proclama derechos abstractos sin garantizar ninguno.
Amamos la Justicia. Por eso luchamos contra el igualitarismo. Porque no es justo tratar igual al necio que al sabio, ni al vago igual que al que se esfuerza.
Amamos la Patria. Por eso luchamos contra el separatismo. Es un crimen que no perdonaremos.
Amamos la Dignidad del Trabajo. Por eso luchamos contra el marxismo y el capitalismo. Las dos caras sucias de la misma moneda materialista y judaica.
Amamos el legado de nuestros ancestros. Por eso luchamos contra el mestizaje globalizador y defendemos nuestra Raza, nuestra Cultura y nuestra Identidad. Porque nosotros no nos avergonzamos de nuestra Historia.
Amamos la Tradición. Por eso somos revolucionarios y luchamos contra una modernidad podrida y decadente.
Amamos y defendemos la Verdad y la Ética. Por eso luchamos contra la democracia. Porque no queremos una sociedad basada en criterios aritméticos.
No luchamos para justificar intereses, sino para defender Valores Eternos.
Por eso, a pesar de la perfidia de nuestros enemigos, al final venceremos.
Legião e Partido
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Pois bem, sendo a Legião o oposto do conceito de Partido, sendo uma realidade antitética em relação a este último, exige uma série de requisitos totalmente distintos do que normalmente existe hoje em dia. É actualmente comum filiar-se num partido para progredir e, por sua vez, é normal da parte do Partido andar atrás das pessoas para que se filiem ou votem nele, pois isso implica para este um ganho de carácter principalmente económico (reconhecimento legal, franquias, subsídios, etc., portanto, dinheiro). Passa-se exactamente o contrário com a Legião. Ser legionário é principalmente um orgulho e algo que se consegue depois de uma série de requisitos não facilmente alcançáveis por qualquer um. Parte-se aqui da ideia de que vários séculos de modernidade e materialismo geraram uma profunda perversão no homem, o qual deve ser corrigido e modificado. Aquele que ingressa na Legião não o faz para ascender ou progredir, como acontece hoje em dia, mas sim para se rectificar. A Legião é pois uma escola para as pessoas, um lugar onde estas recebem uma aprendizagem, mas não no sentido habitual do que é a educação hoje em dia, pois actualmente onde menos se educa é na escola, onde quando muito se adquire um certo adestramento ou técnica que em si mesma não transforma grandemente a pessoa, mas sim uma acção modificadora desta, pela qual quem nela ingressa deve restaurar essa unidade originária no sentido de que o espírito reja a alma e esta governe o corpo. Numa época materialista como a nossa onde o hedonismo, a busca tão-só dos prazeres materiais, é o que prima, a acção correctiva desencadeava-se através de um profundo ascetismo. (…)
Por tudo quanto foi dito salta à vista a ideia grandiosa que resulta da Legião como projecto e a insignificância que perante a mesma adquire o conceito de Partido. Codreanu tinha imposto como norma que todo aquele que se filiasse num partido fosse automaticamente expulso da Legião. O partido era equiparado a uma instituição criminosa que tinha de ser combatida com todas as forças. No entanto, também na sua época surgiram pessoas que por vezes “por táctica” pensaram na conveniência de filiar-se em algum partido para “tomá-lo” ou transformá-lo. A este respeito Codreanu é claro nas suas críticas; ele costumava dizer que quem assim opinava assemelhava-se àqueles que consideravam que o Mar Negro, que é salgado e pequeno, em comparação com o Mediterrâneo por exemplo, iria transformar-se com o decorrer dos anos em doce em virtude de todos os afluentes que lançavam permanentemente as suas águas nele. Precisamente o contrário, respondia, não só continuará sempre salgado, como também transformará em salgadas as águas doces que afluem até ele. Recordemos a tal respeito todas aquelas pessoas que conhecemos que tentaram a sorte nos partidos e veremos quanta razão tem esta simples reflexão.
A terceira revolução, a legionária, aquela que substitui o vetusto conceito de partido pelo mais claro e radical de Ordem, era pois a mais profunda de todas: significava questionar a modernidade até às suas próprias raízes, implicava a verdadeira rectificação da história do Ocidente e, porque não dizê-lo, do mundo inteiro. (…)
A democracia é lisonja
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Não há necessidade de nos deixarmos abusar pelas palavras: é contraditório admitir que os mesmos homens possam ser, num dado momento, governantes e governados porque, para usar a linguagem aristotélica, um mesmo ente não pode estar, simultaneamente e na mesma relação, “em acto” e “em potência”.
Isto é uma relação que supõe necessariamente dois termos: não pode haver governados onde não haveria governantes; mesmo se estes são ilegítimos e não têm outros direitos ao poder, para além dos que a si próprios se atribuíram.
Ora, a grande habilidade dos dirigentes do mundo moderno consiste em fazer acreditar ao povo que ele se governa a si próprio. E o povo deixa-se persuadir tanto mais de bom grado quanto se sente lisonjeado e, por outro lado, sendo incapaz da reflexão necessária para perceber que a coisa é impossível.
Legionarismo Ascético
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Creio que no movimento fascista predomina o elemento Estado, que corresponde ao da forma organizada. Aqui fala a potência formadora da Roma antiga, mestra do direito e das organizações políticas, das quais a Itália é a herdeira mais pura. No nacional-socialismo, pelo contrário, é posto em relevo aquilo que se refere às forças vitais: a raça, o instinto da raça, o elemento étnico-nacional. No movimento legionário romeno, o acento tónico é colocado sobretudo naquilo que, num organismo, corresponde ao elemento alma: sobre o aspecto espiritual e religioso.
Daí vem o carácter dos diferentes movimentos nacionais, que, ao fim e ao cabo, compreendem os três elementos e não deixam nenhum de lado. O carácter específico do nosso movimento vem-nos de uma antiga herança. Já Heródoto chamava aos nossos pais: "os Dácios Imortais". Os nossos ancestrais geto-trácios tinham fé, inclusivamente antes do cristianismo, na imortalidade e indestrutibilidade da alma, o que prova a sua orientação em direcção à espiritualidade. A colonização romana acrescentou a este elemento o espírito romano de organização e de forma. Os séculos seguintes desagregaram e tornaram o nosso povo miserável: mas da mesma forma que num cavalo doente e prostrado se pode reconhecer a nobreza da sua raça, igualmente se pode reconhecer no povo romeno de ontem e hoje os elementos latentes desta dupla herança.
E é esta herança que o movimento legionário quer despertar. Partindo do espírito, quer criar um homem espiritualmente novo. Realizando esta tarefa enquanto "movimento", aguarda-nos o despertar da segunda herança ou seja, a força romana politicamente formadora. Assim, o espírito e a religião são, para nós, o ponto de partida, o "nacionalismo construtivo" é o ponto de chegada, uma simples consequência. A ética simultaneamente ascética e heróica da Guarda de Ferro consiste em reunir um e outro ponto.
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Para nós, um ponto particular é que a presença dos mortos na nação ecuménica não é abstracta e sim real: dos nossos mortos e sobretudo dos nossos heróis. Não nos podemos separar deles; eles, como forças libertadas da condição humana, penetram e sustentam a nossa mais alta vida. Os legionários reúnem-se periodicamente em pequenos grupos, chamados "ninhos". Estas reuniões seguem ritos especiais. Aquele pelo qual se abre cada reunião é a chamada de todos os nossos camaradas caídos, à qual os participantes respondem com um "Presente!". Mas isto não é, para nós, uma simples cerimónia e uma alegoria, mas, pelo contrário, uma evocação real.
Distinguimos o indivíduo, a nação e a espiritualidade transcendente, e na devoção heróica consideramos aquilo que conduz de um ao outro desses elementos, até uma unidade superior. Negamos, sob todas as suas formas, o princípio da utilidade bruta e materialista: não somente no plano do indivíduo, mas também no da nação. Para lá da nação, reconhecemos princípios eternos e imutáveis, em nome dos quais devemos estar prontos a combater, a morrer, e aos quais devemos subordinar tudo, pelo menos com a mesma determinação com que tomamos o nosso direito a viver e a defender a nossa vida. A verdade e a honra são, por exemplo, princípios metafísicos, que colocamos acima da nossa própria nação.
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Há dois aspectos, para clarificar os quais tem de ter-se presente o dualismo do ser humano, que é composto de um elemento material naturalístico e de um elemento espiritual. Quando o primeiro domina ao segundo, é o "inferno". Qualquer equilíbrio entre os dois é uma coisa precária e contingente. Só o domínio absoluto do espírito sobre o corpo é a condição normal e a premissa de toda a força verdadeira, de todo o verdadeiro heroísmo. O jejum é praticado por nós porque favorece tal condição, liberta as amarras corporais, estimula a auto-libertação e a auto-afirmação da vontade pura. E quando a isto se acrescenta a oração, pedimos que as forças do alto se unam às nossas e nos sustentem invisivelmente. O que nos conduz ao segundo aspecto: é uma superstição pensar que em cada combate só as forças materiais e simplesmente humanas são decisivas; entram em jogo, pelo contrário, igualmente forças invisíveis, espirituais, pelo menos tão eficazes como as primeiras. Estamos conscientes da positividade e da importância destas forças. É por isso que damos ao movimento legionário um carácter ascético preciso. Também nas antigas ordens cavaleirescas vigorava o princípio da castidade. No entanto faço notar que entre nós se restringe ao Corpo de Assalto, também com base numa justificação prática, ou seja, para aqueles que se devem consagrar inteiramente à luta e não temer a morte é conveniente não ter impedimentos familiares. Por outro lado, só se permanece neste corpo até aos trinta anos de idade. Mas, em todo caso, permanece sempre uma posição de princípio: de um lado há aqueles que não conhecem senão a "vida", e que portanto não buscam senão a prosperidade, a riqueza, o bem-estar, a opulência; do outro, há aqueles que aspiram a algo mais que a vida, à glória e à vitória numa luta tanto exterior como interior. Os Guardas de Ferro pertencem a esta segunda categoria. E o seu ascetismo guerreiro completa-se com uma última norma: com o voto de pobreza a que está obrigada a elite dos chefes do movimento, pelos preceitos de renúncia ao luxo, às diversões vazias, aos passatempos chamados mundanos, em suma, pelo convite a uma verdadeira mudança de vida que fazemos a cada legionário.
O mistério da decadência
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Com tudo isto esclarece-se em todos os aspectos o motivo por que dizemos que o segundo eixo de toda a organização tradicional é – além do rito e da existência de uma elite, não só humana, que representa a transcendência – a fidelidade. É esta a força que, tal como um magnetismo, estabelece os contactos, cria uma atmosfera psíquica, propicia as comunicações, estabiliza as estruturas e determina um sistema de coordenação e de gravitação entre os indivíduos isolados e entre estes e o centro. Quando começa a faltar este fluído, que em última análise tem a sua origem na liberdade e na espontaneidade espiritual da personalidade, o organismo tradicional perde a sua elementar força de coesão, fecham-se caminhos, os sentidos mais subtis atrofiam-se, as partes dissociam-se e atomizam-se – o que tem por consequência a imediata retirada das forças do alto, que deixam ir os homens para onde quiserem, segundo o destino criado pelas suas acções e que nenhuma influência superior poderá já modificar. É somente este o mistério da decadência.
Tradição e Revolução
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O significado interior da raça
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Não só a palavra “raça”, mas também a palavra “sangue”, tiveram na linguagem comum um significado vivo e preciso, longe de qualquer referência biológica ou científica. Diz-se que “o bom sangue não mente”. Fala-se de um “instinto do sangue”. Há insultos que são sangrentos. Há situações contra as quais “até o sangue” se revolta. O que significa tudo isto? Nas profundezas de cada ser humano, muito além da área dos conceitos abstractos, do raciocínio discursivo ou das convenções derivadas da vida social, existem instintos com uma forma determinada, existe a capacidade para reacções directas e absolutas, que são normais no “homem de raça” mas que se manifestam apenas esporadicamente no homem comum, em casos extremos, nas provas mais sérias da vida.
Falamos aqui de impulsos que pertencem à pura vida animal e biológica? Seria imprudente afirmá-lo. As forças em questão, os instintos do “homem de raça”, longe de serem apêndices dos instintos animais, frequentemente contradizem-nos e impõem à existência uma norma superior, tornando natural e espontânea tanto a obediência a uma certa “linha” como um certo estilo de domínio, de tensão interior, de afirmação. As reacções da raça apenas têm em comum com os instintos animais o carácter de imediatez e precisão: não decorrem do raciocínio e de considerações intelectuais, mas são pelo contrário espontâneas e manifestam a plenitude de todo um ser. De facto, elas ultrapassam o intelecto, já que se manifestam de formas especiais, directas, de sensibilidade, de juízo, de reconhecimento. O homem é conduzido pela raça, pelo sangue, a evidências inquestionáveis, que, no seu próprio plano, são tão directas como as que são proporcionadas pelos sentidos sãos e normais. Da mesma maneira que ninguém questiona porque é que a cor vermelha é vermelha, também, evidências igualmente naturais e precisas são próprias do “homem de raça”, enquanto que o homem “moderno” intelectualizado e degenerado apalpa o caminho à sua frente, por assim dizer, procurando remediar a perda da faculdade de ‘ver’ com a de ‘tocar’ socorrendo-se do intelecto discursivo, frequentemente com o único resultado de passar de uma crise para outra ou de adoptar critérios meramente conformistas.
É neste plano que a raça deve ser entendida e vivida. A raça vive no sangue, ou antes mais fundo do que o sangue, numa profundidade onde a vida individual comunica com uma vida mais do que individual, que não deve ser compreendida, no entanto, de forma naturalística, como “vida da espécie”, mas como uma ordem na qual agem forças espirituais. (…)
A ciência pode realçar a importância da raça através dos resultados alcançados pela genética e pelas teorias da hereditariedade, demografia e patologia. Tudo isto pode contribuir para o despertar do sentimento de raça, mas não o pode criar. O sentimento de raça é uma reacção interior para a ocorrência da qual um ‘mito’ – mito entendido como ‘ideia-força’ – é mais útil do que considerações científicas. E esse mito já o indicamos: raça significa superioridade, plenitude e autoconfiança da vida. Existem seres comuns e existem seres “de raça”. Qualquer que seja a classe social de que provêem, tais seres formam uma aristocracia. Uma herança remota e misteriosa vive ainda neles.
É por isso que o racismo tem o valor de um teste, de um reagente, mesmo nas suas formulações mais gerais. As reacções desta ou daquela pessoa em relação à ideia racista são uma espécie de barómetro que nos mostra a “quantidade” de raça que se pode encontrar na pessoa em questão. Dizer sim ou não ao racismo não é apenas uma divergência intelectual, não é algo subjectivo e arbitrário. Diz sim ao racismo aquele em quem a raça ainda vive; opõe-se-lhe e procura em todo o lado álibis que justifiquem a sua aversão e que desacreditem o racismo, aquele que foi internamente derrotado pela anti-raça e em quem as forças originais foram sufocadas por detritos étnicos, por processos de cruzamento e degeneração, ou por um estilo de vida burguês, débil e “intelectualoide” que perdeu por gerações qualquer contacto com tudo aquilo que é verdadeiramente originário.
– Julius Evola, “Elementos para uma educação racial”
Meditações na Cartuxa
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Uma pálida paisagem invernal de campos espargidos de neve e charcos de água. Esqueletos negros de árvores desnudas. Um alto céu de zinco. Um grande silêncio. Nesta solidão, levada desde uma altura, surge à clara linearidade de uma fachada de igreja, a que se enlaça um alto cerco, mais além do qual se vê uma série regular de edifícios pequenos. Na parte dianteira, uma explanada com uma grande cruz negra. A entrada está fechada – dir-se-ia que desde tempos remotos – com uma pesada parada negra de madeira esculpida. Um símbolo: sete estrelas ao redor de uma esfera com uma cruz em cima, acompanhada da frase: «stat dum volvitur orbi». Tal é a Cartuxa de Hain, perto de Düsseldorf.
«Wir haben úberhaupt keine Ruhe» – disse-nos sorrindo um dos «patres» cartuxos, ou seja: não temos nem um momento de descanso, de trégua. É o oposto do que se imagina habitualmente sobre a vida contemplativa. A regra cartuxa não deixa um só instante inactivo o sujeito: a totalidade da jornada encontra-se rigorosamente subdividida, de modo tal que a cada hora corresponde uma tarefa precisa, um certo acto ritual, uma determinada realização litúrgica, com um único breve intervalo de trabalho manual para interromper uma tensão interior que de outra maneira seria insustentável.
O isolamento e silêncio são conhecidas regras dos Cartuxos. Toda Cartuxa está construída de acordo com um mesmo tipo arquitectónico. Um jardim claustral no centro também serve de cemitério – um cemitério no qual o “homem” não figura – há ali tão só cruzes negras, sem nome. Em seu redor, e separadas uma das outras, encontram-se dispostas as habitações, em que cada cartuxo concentra o seu trabalho, as suas orações, a sua ascese: ali ele come, vela, descansa, encontrando-se com os outros tão-só no templo, para as acções litúrgicas colectivas, ou em raras solenidades, em que se celebra uma comida em comum: na clara severidade de um refeitório, no meio da parede de fundo, em lugar elevado, toma o lugar o Prior, concebido, na Ordem, quase como uma manifestação vivente de Cristo e investido de uma suprema autoridade.
O silêncio do cartuxo não é interrompido senão para um uso sagrado da palavra, para o ofício litúrgico: seja ele diurno ou nocturno. No meio da noite invernal, baixo o sinal do sino, luzes vacilantes surgem quase simultaneamente, desde a obscuridade entre as lentas porções de neve, para iluminar as estranhas sombras brancas encapuçadas que se encaminham com as suas lanternas até à capela. Ali tomam silenciosamente o seu lugar; e as luzes são apagadas. Tudo permanece numa penumbra diáfana. Alguns minutos de recolhimento, logo, depois de um breve e seco golpe, inicia-se a liturgia. É um rude canto gregoriano sem acompanhamento, sem variedade de tons: é um ritmo, que recorda as melodias árabes, mas que na sua monotonia encerra uma muito mais alta intensidade espiritual que acusa uma espécie de insensível anelo ou ímpeto, que seria sumamente difícil de descrever: é como conduzir-se até um limite, que se é incapaz de transcender, ainda estando totalmente desapegados do vínculo terreno. Entre os temas principais do canto, proposto por uma ou outra voz, intercalam-se pausas de recolhimento, que dão uma impressão mais forte: são momentos de um silêncio vivente, de um silêncio intenso, nos quais se diria que está presente “algo” no templo, uma força já diferente de todas aqueles que se encontram ali em recolhimento. O rito nocturno alcança às vezes três horas de duração. Ante um novo sinal, as sombras brancas apartam-se da penumbra, movem-se, as lanternas são acesas novamente, os «patres» retornam às suas residências para voltar a encontrar-se algumas horas mais tarde para o ofício da alvorada. Os cartuxos não se ajoelham nunca. Inclinam-se profundamente, ou nos momentos mais importantes, se recostam no solo como se tivessem sido abatidos.
Foi-nos dito em Hain para não termos ilusões a respeito do futuro da Ordem. E em verdade, especialmente em nossos dias, para muitos não existe nada mais anacrónico que a pura vida contemplativa. Inclusive em vários ambientes católicos acredita-se que o religioso pode ainda ter uma função tão-só deixando de lado a ascese passando a uma acção militante ou proselitista, em directo contacto com as forças do mundo e da história.
É um facto irrebatível que desde há muito o Ocidente identifica a acção com as suas modalidades mais exteriores, materiais e contingentes, pelo que se concebe como inércia ou fuga tudo aquilo que, ainda não sendo para nada não-acção (a vida ascética, ademais das renúncias, implica uma disciplina e uma concentração interior pelo menos tão grande como as próprias de qualquer “homem de acção”) não se deixa remeter a semelhantes modalidades. Ademais existem as confusões próprias de quem, encerrado no horizonte mais grosseiramente sensível, pensa que só as forças materiais e outros modos directos de combater e resistir sejam os decisivos e determinantes na história.
Donoso Cortes, que foi também um homem de acção pública, afirmou que para que uma sociedade seja firme “é necessário que exista um certo equilíbrio, conhecido tão só por Deus, entre a vida contemplativa e activa.” A necessidade de que o mundo mutável e incerto da acção encontre seu complemento e quase diríamos seu eixo no imutável da verdadeira contemplação – ou seja de uma interioridade virilmente desapega e projectada até à transcendência – foi reconhecida por qualquer civilização normal, até aquela em que Dante e Frederico II foram seus expoentes. E, em relação com isso, foi também concebida a realidade de uma acção de outro género, de uma acção silenciosa, compreendida em função de estabelecer “contactos”, de mover forças que, por ser invisíveis, não são menos eficazes que as puramente humanas, pois só através da via da ascese e do rito podem ser alcançadas. É sobre esta base que toda doutrina tradicional define que os ascetas devem estar ao lado dos guerreiros, que a contemplação ilumina, justifica e converte em absoluta a acção, que homens adequadamente dotados cumprissem de maneira ininterrupta, com sua aparente retirada do mundo, com a função de vincular a realidade humana com uma realidade mais que humana. Pontifex, antigamente, significava para os romanos “fazedor de pontes”. Uma antiga fórmula nórdica era: “O que é chefe que seja ponte…”
Um mundo que não queira ser de agitados, mas sim de seres que conheçam verdadeiramente a acção e saibam dominá-la, deve ter em conta tudo isto, evitando perigosas unilateralidades. Por certo hoje mais que nunca trata-se de apartar do modo que seja todas as forças evocadas a fim de actuar e de combater este mundo. Entretanto, pode-se também pensar que se nos últimos tempos as coisas não estão ainda piores, isso não se deve tão só aos chefes visíveis dos povos, mas pelo menos em igual medida à acção invisível e silenciosa de poucos seres espalhados e ignotos, neste como em outros continentes, que manterão, todavia, de alguma maneira, as relações entre o mundo visível e o mundo superior. Mas ainda é possível que para o olho "da outra margem" seja justamente estes que aparecem como os únicos pontos luminosos e firmes num mundo de névoa e agitação, como pequenas fogueiras acendidas na noite por parte daqueles que “velam” e que ainda se mantêm de pé.
Aqui por suposto que não pretendemos referirmos a ascetas de uma determinada fé ou tradição e não tratamos do problema relativo à medida, na qual as formas sobreviventes de ascese realizam verdadeiramente a mencionada função. Porém, a Europa apresenta hoje traços de similitude com aquele período de convulsão no qual, como reacção, surgiram as primeiras Ordens monásticas ocidentais. E muitos espíritos, incapazes de encontrar os mais altos e originários pontos de referência, dirigem-se hoje para o catolicismo. Não é nossa função entrar em tais problemas; entretanto um ponto nos parece claro: não é sendo indulgente até atitudes militantes que às vezes confluem inclusive no plano das motivações políticas e sociais, não é insistindo em veleidades proselitistas e apologéticas, não é buscando compromissos com o pensamento “moderno” e inclusive com as ciências profanas de hoje em dia, e sim se desapegando decididamente, insistindo tão-só no ponto de vista da ascese, da pura contemplação e da transcendência, que a Igreja poderá quem sabe, dentro de determinados limites, voltar a converter-se verdadeiramente numa força e assegurar-se assim uma inviolável autoridade. Se, justamente em tempos como os modernos em que o mundo da acção atingiu um paroxismo sem comparação alguma na história, quase por contraposição, deixando tudo mais, subordinando qualquer ambição semi-temporal, se deveria dar um relevo mais decidido ao pólo da pura transcendência e da ascese, e que uma força encontre na outra seu equilíbrio, e que nas horas mais angustiantes e nas provas mais duras a cada um seja dado a possibilidade de transfigurar todo o sacrifício e toda luta e de achar inclusive na morte a via até uma vida superior.
A autarquia económica (II)
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Que o “homem económico” não existe, foi o ponto de vista de Mussolini, que lhe opôs o “homem integral” (1933). A sua ideia era que “a política dominou e dominará sempre a economia”, relevando nesse contexto que o que se concebeu como destino do homem “foi criado nas suas três quartas partes por abulia ou pela vontade” (1932). Neste ponto, regressamos às perspectivas de Spengler. Estudando as formas com que um ciclo de civilização que chega ao fim se reveste (a descida da Kultur ao nível da Zivilisation), Spengler atentou justamente na fase em que a economia se torna soberana, ou seja, quando se realiza a união entre a democracia, o capitalismo e a finança. Tal união demonstra, aliás, o carácter ilusório das “liberdades” reivindicadas nos nossos dias já que, como é evidente, as “liberdades políticas” não são absolutamente nada sem a liberdade ou autonomia económica, e isso tanto no domínio individual como colectivo. Neste último, porque, num regime democrático, são os grupos detentores de riqueza quem controlam a imprensa e os meios de formação da “opinião pública” e da propaganda, no domínio individual e prático, porque o acesso às diversas “conquistas” da civilização moderna, técnica e económica e a sua prosperidade aparente, é pago com outras tantas alienações do indivíduo, pela sua inserção cada vez mais rigorosa na engrenagem colectiva movida pela economia. Perante isto, as “liberdades políticas” não passam de coisa ridícula.
Spengler previu uma fase sucessiva a que chamou “política absoluta” e pô-la em relação com o aparecimento desses novos chefes de tipo problemático a que já nos referimos. Todavia, sem esquecer as reservas que avançámos a esse respeito, podemos retirar de uma visão desse tipo a ideia de uma possível mudança de situação sob o impulso de um Estado forte baseado no destacado princípio da autoridade que podia pôr travões ao “gigante desenfreado”, a economia como destino. A expressão “gigante desenfreado” foi forjada por Werner Sombart, sobretudo quando se referia ao capitalismo moderno e às suas determinações imanentes. Pode, pois, ser tida em consideração essa referência específica: partindo do princípio da predominância da política sobre a economia e do regresso à ideia de Estado autêntico, da sua soberania e autoridade concretizadas num conjunto de estruturas adequadas, o desenvolvimento teratológico do capitalismo no sentido de uma produção infrene pode mesmo ser limitado com o objectivo último de reconduzir tudo o que é economia à posição subordinada de meio e de domínio circunscrito numa hierarquia mais vasta de valores e de interesses.
Para completar as presentes considerações, podemos relacionar esse fim último com o seu conteúdo e dizer que, do nosso ponto de vista, o essencial seria chegar-se a um equilíbrio, a uma estabilidade, à suspensão do movimento ilimitado. Não se pode exigir isso ao Fascismo, que tinha diante de si a difícil tarefa de reestruturação económica, industrial e social da nação, e isso, abstraindo dos projectos expansionistas ligados a certa aspiração à grandeza, mais que ao splendid isolement autárquico. Nestas condições, era natural uma orientação activa e dinâmica, um impulso para a frente, que chegou a ser enunciado na fórmula “parar é perder”, cujo carácter problemático compreendia a evidente implicação anti-autárquica consistente em aceitar sem medidas defensivas a inserção num processo global de condicionamento.
A questão última, a de um ideal de civilização a escolher de modo definitivo ou a sua adopção como regra geral, não chegou, pois, a ser posta. Seria caso para perguntar até que ponto o Fascismo sentiu a vocação de ir contra a corrente do movimento geral que conduz o mundo moderno para o que se considera progresso, mas a que mais valeria chamar “fuga em frente” (Bernanos), dada a verdadeira significação interna desse mundo. Em certo momento, até que ponto a orientação justa não teria consistido em virar-se para o chamado “imobilismo”, termo usado pelos que confundem estabilidade e limite positivo voluntário com imobilidade e inércia, e reconhecer que pôr travões à direcção horizontal do futuro, à evolução no sentido material, técnico e económico, aos processos que acabam por escapar a todo o controle, era a condição de um progresso autêntico, de um movimento vertical, de realização das possibilidades superiores e da verdadeira autonomia da pessoa. Em suma, retomando uma fórmula conhecida, a condição de realização do ser, indo mais além do bem-estar.
A autarquia económica (I)
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No domínio das nações, e não menos no das pessoas, um dos maiores bens é a liberdade, a autonomia. Essa exigência foi afirmada de modo especial por Mussolini ao afirmar: “Sem independência económica, a autonomia da nação fica comprometida. Mesmo o povo de elevadas capacidades militares pode ser vergado pelo bloco económico” (1937). Segundo ele, pois, a nova fase da história italiana devia “ser dominada por este postulado: tão depressa quanto possível, conseguir-se o máximo de autonomia na vida económica da nação” (1936). Falar de “mística da autarquia” (1937) tem de ser levado à conta de um abuso da palavra mística que caracterizou os últimos anos do Fascismo. Entretanto, apoiando-nos na própria origem da palavra, poderia falar-se de ética da autarquia: vem-nos da antiguidade greco-romana, especialmente das escolas estóicas, que professavam a ética da independência e da auto-soberania da pessoa, valor que sempre se jurava seguir quando se tornava necessário o severo princípio de abstine e substine.
O princípio fascista da autarquia pode ser considerado, pois, uma espécie de extensão dessa ética no plano da economia nacional. Se necessário, manter um nível geral de vida relativamente baixo, adoptar a austerity, que, aliás, num contexto diferente, foi praticada aqui e ali por outras nações depois da guerra, mas garantir o máximo de independência, orientação que aprovamos sem hesitar. No caso de uma nação de recursos naturais limitados como a Itália, o regime de autarquia e austeridade inscrevia-se precisamente na direcção justa. Relativamente ao curso da vida nacional, achamos perfeitamente normal uma situação oposta a tudo o que hoje temos: entre outras coisas, aparente prosperidade geral e despreocupação no dia-a-dia acima das possibilidades de cada um, défice assustador do orçamento de Estado, instabilidade sócio-económica extrema, inflação galopante e invasão de capital estrangeiro, cujas consequências se traduzem em múltiplos condicionamentos visíveis e invisíveis.
Naturalmente, não é necessário ir muito longe no sentido contrário. A analogia que a todos os níveis nos oferece o comportamento de um homem digno desse nome, serve-nos de guia. Esse homem pode favorecer o desenvolvimento do corpo e o bem-estar físico sem com isso se tornar escravo. Sempre que necessário refreia certos impulsos, mesmo ao preço de sacrifícios, e obriga-os a obedecerem a exigências mais elevadas: é indiferente a esse homem enfrentar tarefas que reclamam tensões especiais. Para tornar possível o que corresponde à própria orientação no plano nacional é que devem estabelecer-se relações justas entre o princípio político do Estado nacional orgânico e o mundo da economia, a parte corporal do Estado.