O Filósofo Estóico e o Guerreiro Samurai

Poderá parecer estranho à desatenção humana, ver semelhanças entre o filósofo estóico e o guerreiro samurai, mas a desatenção só a é se lhe mantivermos o prefixo ‘de’, assim, e sem tal prefixo, passaremos a ter atenção, qualidade do que é atento, desperto em cada instante da vida, o que significa, que deixaremos de nos espantar ou ficar intrigados com as semelhanças efectivamente reais, existentes entre o filósofo do pórtico, cujo percurso começa na Grécia em fins do séc. IV a.C., e que lentamente irá desaparecer por volta do séc. II, III d.C., e o guerreiro samurai, cujo aparecimento se dá ainda sob a forma “bruta” no séc. XII d.C. com o nome de Bushi, ou guerreiro, que sob a cabeça do Xógum, governa o Japão. Em princípios do século XVII, aparece já polido da sua forma anterior o samurai, que perdurará até ao ano de 1878, data do ressurgimento do poder imperial, e do início da época moderna no Japão; não nos podemos esquecer que essa época dita moderna, provocara a derrocada do mundo Tradicional e do que ele comporta e significa para o Homem verticalizado.

Os princípios ou fundamentos sob os quais agem quer o estóico quer o samurai são idênticos, senão iguais; prova disso é o caminho interior que cada um deve trilhar nesse conhecimento de si mesmo, que se encontra ao alcance, não só, do que teve coragem para se iniciar no caminho, como também, naquele que persevera no caminho sabendo de antemão que o Ideal pelo qual vive e morre se encontra num pedestal inatingível. Para retermos tais princípios, um pequeno quadro sinóptico ajuda-nos no estudo e na compreensão das filosofias de vida dos dois homens verticais em questão:


Se olharmos para os fundamentos onde se alicerça o melhor de cada um, ficamos estonteados com as semelhanças. Poder-se-ia pensar que o pórtico só produzira “figuras geladas”, no entanto, o filósofo estóico era combativo, não deixava que o desejo e o medo dele se apoderassem, manipulando-lhe a razão. Ele era senhor de si mesmo; em cada circunstância, agia sempre de acordo com a razão, quer dizer, com o bem moral.

Segundo ele, não é suficiente nomear o bem, fazendo por vezes o oposto. Há que o praticar, independentemente da situação e provação que a vida nos coloca. Por isso, o estóico era enciclopédico, modelo de vida, realizava em si a transformação do homem. O exame de consciência diário, ou seja, o meditar sobre os actos punham em evidência um espírito crítico, de auto-superação-realização. A disciplina intelectual, o controlo físico e o treino mental são utensílios que o filósofo usava nesse combate diário que o homem tem diante si: o de viver por si, com os outros e sob o desígnio divino o melhor que sabe e de acordo com o bem moral.

O guerreiro Samurai, à semelhança do filósofo estóico, tentava evitar as flutuações de ânimo, que o obrigaria a recompor-se, desviando-se assim da tarefa principal: servir o seu senhor com absoluta lealdade em qualquer circunstância e a todo o instante.

Tal como o estóico, o samurai “tardio”, em períodos de maior acalmia, era enciclopédico; a sua formação visava o homem total e consistia em: ler os textos clássicos, caligrafia, tiro com arco, equitação, artes marciais, esgrima, teatro Nô, cerimónia do chá… A este caminho, chamou-se de Bushido, que significa, o Caminho do Guerreiro.

O Bushido era um código de honra e de comportamento social, onde o samurai deveria observar alguns preceitos, tais como: Piedade filial (ensinava-se ao senhor, que procurasse homens fieis entre aqueles que eram filiais, pois só estes saberiam ter uma autêntica fidelidade), Fidelidade e Lealdade.

As obrigações do Samurai eram de duas espécies: Militares e de Construção, o que significava, que este estava sempre activo, quer prestando serviço ao seu senhor, quer auxiliando e protegendo a sua família. O Samurai deveria ter presente que a sua vida pertencia ao seu senhor, a sua lealdade para com ele deveria ser total, esta deveria estar alicerçada no dever, na coragem e na fé. Diz-se que só havia uma lealdade superior à do samurai – a lealdade do senhor para com este.

Para se entender este verdadeiro espírito de coragem e de abnegação do guerreiro samurai, devemos recordar que a sua formação, estava assente em parte no budismo, que no Japão alguns mestres “simplificaram” e lavaram ainda mais longe, passando a designar-se por Zen.

Como se pode ver, estes dois homens verticais, homens da Tradição, fiéis a princípios, mas de tempos e lugares diferentes, comungam do mesmo.

O seu labor diário, o seu conhecimento e a sua espiritualidade têm o mesmo fim: o de servir, o de estar disponível, o de viver a vida plenamente aqui e agora, como que num eterno presente. Estes são os verdadeiros guerreiros, que à guerra externa, preferem a interna, pois só esta é constante e os obriga a manter a vigilância como se o inimigo estivesse sempre presente.

Citando o poeta Teitoku (1570-1653):
“Amanhã vai ser assim, pensamos no dia anterior
Mas hoje damo-nos conta de que tudo mudou
É assim a marcha do Mundo”

«Roma nasce no momento em que se manifesta um pouco por toda a parte, nas antigas civilizações tradicionais, a crise de que já falámos. E se nos abstrairmos do Sacro Império Romano, que de resto corresponde, em grande medida, a uma recuperação da antiga ideia romana, Roma surge-nos como a última reacção contra estas crises, a tentativa – vitoriosa durante um ciclo inteiro – de escapar às forças da decadência já activas nas civilizações mediterrânicas e de organizar um conjunto de povos, realizando, sob uma forma mais sólida e mais grandiosa, o que o poder de Alexandre Magno não tinha conseguido senão durante um curto período.»
(Revolta Contra o Mundo Moderno, pág. 350)

José António e Codreanu: Mártires do Ideal

Segundo Maurice Bardeche, “os fascistas preferem os seus mártires aos seus ministros”. Será por isso que nos encontramos aqui hoje a recordar José António e Codreanu? Talvez também por isso, mas não só por isso…
José António Primo de Rivera e Corneliu Zelea Codreanu: o que têm em comum estas duas figuras trágicas do fascismo europeu de entre guerras? Mais, muito mais, do que poderia parecer à primeira vista. José António espanhol, Codreanu romeno, ambos latinos (de Ocidente e Oriente), ambos cristãos (um católico, o outro ortodoxo, ambos defensores de uma concepção ascética da religião), ambos líderes políticos revolucionários, na verdadeira acepção da palavra, ambos portadores de uma concepção superior (transcendente) do homem, ambos desejosos de assistir ao nascimento de um “Homem Novo” (na realidade um homem tradicional…), ambos defensores da “nacionalização” das massas trabalhadores (através do nacional-sindicalismo no caso espanhol e do socialismo nacional cristão no caso romeno) e, finalmente, ambos mártires da sua Causa. O seu sacrifício e exemplo inspirador fazem com que, ainda hoje, tenham seguidores não só nos seus países, mas também muito além das respectivas fronteiras.
*
* *
José António nasceu em 1903, no seio de uma família conservadora-monárquica. Seu pai, o General Primo de Rivera, havia em 1922 liderado um golpe de Estado, proclamando-se ditador; a sua ditadura não duraria, no entanto, muito tempo.
Diz-nos Muñoz Alonso que: “Nem pela ascendência familiar, nem pela formação académica, nem pela sua vocação, nem pelos seus usos e hábitos sociais, nem pelo seu temperamento, por nada disto José António pareceria destinado a representar a exigência e a origem motriz de um sindicalismo capaz de vertebrar os trabalhadores. José António venceu a batalha da vida consigo próprio, lutando contra as suas inclinações mais profundas”.
O que leva então o jovem José António a assumir a luta política, a lutar “contra as suas inclinações mais profundas”? Em primeiro lugar defender a honra e memória de seu pai, General Primo de Rivera, diariamente denegrida e emporcalhada. É assim que em 1931, em artigo publicado no jornal ABC proclama: “O povo de Madrid negar-me-á os seus votos? Mais um deputado republicano ou socialista não faz falta nas Cortes, porque nem a República nem o Partido Socialista têm falta de quem os defenda. Mas a memória do meu pai, sim. E este povo madrileno – que o meu pai tão bem entendia e com quem tão cordialmente comunicava – não pode deixar que o condenem sem antes ouvir a sua defesa. Um lugar nas Cortes para defender a memória do meu Pai!”
Progressivamente, durante o período que vai de 1931 a 1933, a sua “consciência do momento histórico em que vivia” acentua-se, levando-o à fundação da Falange em Outubro de 1933. Já não é a defesa da memória do pai que o move, mas sim a ideia de serviço: serviço a Espanha e a um Ideal redentor. É assim que no discurso fundacional da Falange, a 29 de Outubro de 1933, proclama: “O nosso movimento não é apenas uma maneira de pensar, é uma maneira de ser. Não nos devemos propor apenas a construção, a arquitectura política. Temos que adoptar, perante a vida, em cada um dos nossos actos, uma atitude humana, profunda e completa. Esta atitude é o espírito de serviço e sacrifício, o sentido ascético e militar da vida. Assim sendo, que ninguém pense que aqui recrutamos para oferecer recompensas; que ninguém pense que nos reunimos para defender privilégios.”
De facto, a Falange não pretende defender privilégios, nem manter o status quo. Pelo contrário, pretende a superação revolucionária da situação presente. Criticando ao mesmo tempo o liberal-capitalismo e o comunismo, a Falange e José António pretendem, através do nacional-sindicalismo, “a substituição do capitalismo”, que “só poderá dar-se quando forem alteradas (…) as formas e os centros do poder dentro da empresa; isto é, quando a empresa capitalista der lugar à empresa, de propriedade sindical ou não, em que é destruído o dualismo expresso no contrato de trabalho”.
Não tardaram as acusações de bolchevista… Aos que o acusam de bolchevismo José António dá uma resposta cabal: “O anti-bolchevismo é a posição que contempla o mundo sob o signo do espiritual. Estas duas atitudes, que hoje em dia se chamam bolchevismo e anti-bolchevismo, sempre existiram. É bolchevista todo aquele que procura vantagens materiais para si e para os seus dê por onde der; é anti-bolchevista aquele que está disposto a privar-se de satisfações materiais para sustentar valores de qualidade espiritual. Os velhos nobres, que pela religião, pela pátria e pelo Rei comprometiam as suas vidas e os seus bens, eram a negação do bolchevismo. Os que hoje, perante um sistema capitalista que grunhe, sacrificamos comodidades e vantagens materiais para conseguir um reajuste do mundo sem que o espiritual naufrague, somos a negação do bolchevismo. (…) Pelo contrário, aqueles que se aferram ao gozo de infinitas opulências gratuitas, os que consideram mais urgente a satisfação da sua superfluidade que o socorro da fome de um povo, esses sim, intérpretes materialistas do mundo, são os verdadeiros bolchevistas. E com um bolchevismo de espantoso refinamento: o bolchevismo dos privilegiados”.
Nesse mesmo discurso fundacional diz também o seguinte: “Queremos menos palavreado liberal e mais respeito pela liberdade profunda do homem. Porque apenas respeitamos a liberdade do homem quando o consideramos, como nós o fazemos, portador de valores eternos; quando o consideramos revestimento corporal de uma alma que é capaz de se condenar e de se salvar. Apenas quando o homem é assim considerado, se pode dizer que se respeita de verdade a sua liberdade, e ainda mais se essa liberdade se conjuga, como nós pretendemos, num sistema de autoridade, de hierarquia e de ordem”.
Infelizmente, a actividade frenética de José António, enquanto líder e militante, e também a sua morte precoce, com apenas 33 anos e apenas três anos após a fundação da Falange, não permitiram a sistematização do seu pensamento, disperso por artigos, ensaios e discursos, quase todos marcados pelas vicissitudes políticas do momento. No entanto, pensamos não errar ao afirmar que a concepção do homem enquanto portador de valores eternos, o sentido ascético e militar da vida (o “homem metade monge, metade soldado” de que falava), o espírito de serviço e sacrifício, a ideia de autoridade, hierarquia e ordem constituem o núcleo fundamental do pensamento político de José António.
*
* *
Já Codreanu, nascido em 1899 (mais velho que José António apenas 4 anos), parece ter tomado consciência da necessidade do combate político mais cedo, talvez por influência familiar (seu pai, Ion Zelea Codreanu, era um destacado militante nacionalista). Em 1916, quando a Roménia entrou na I Guerra Mundial, o jovem Codreanu, apesar de não ter idade suficiente, tentou alistar-se. Não o podendo fazer, fugiu de casa para se juntar a seu pai na frente de combate.
Em 1919 muda-se para Iasi, para prosseguir os seus estudos universitários de direito. É aí que conhece o professor Cuza, destacado intelectual nacionalista, com o qual viria a fundar mais tarde, em 1923, a Liga de Defesa Nacional Cristã. É também aqui que, pela primeira vez, toma contacto directo com a subversão judeo-bolchevique. No final desse ano de 1919 junta-se à Guarda da Consciência Nacional, uma efémera organização nacionalista dirigida pelo operário Constantin Pancu. É no seio deste grupo que nasce a ideia de um “socialismo nacional cristão”. Segundo Codreanu: “Não basta derrotar o comunismo. Temos de combater pelos direitos dos trabalhadores. Eles têm direito ao pão e à honra. Temos de lutar contra os partidos oligárquicos, criando organizações nacionais de trabalhadores que possam obter os seus direitos no seio do Estado e não contra o Estado”.
Codreanu descreve-nos assim o início da sua actividade política: “Não sou capaz de definir com entrei na luta. Provavelmente como um homem que, caminhando pela rua, com as suas preocupações, as suas necessidades e os seus pensamentos, sendo surpreendido pelo fogo que consome uma casa, tira o seu casaco e corre a ajudar as vítimas das chamas. Com o senso comum de um jovem de vinte e poucos anos, a única coisa que podia compreender em tudo o que via à minha volta, era que estávamos a perder a Pátria, que não teríamos mais uma Pátria, que, com o apoio inconsciente dos miseráveis, os empobrecidos e explorados trabalhadores romenos, a horda judaica nos varreria. Comecei com um impulso do meu coração, com esse instinto de defesa que até o mais baixo verme possui, não com o instinto de auto-preservação, mas de defesa da raça à qual pertenço.”
Em 1922 participa na fundação da Associação de Estudantes Cristãos. Nesse mesmo ano muda-se para a Alemanha, para prosseguir os seus estudos, inscrevendo-se na Universidade de Berlim. É aqui que ouve falar pela primeira vez de Adolf Hitler e do nacional-socialismo. No entanto, no final desse ano, a 10 de Dezembro, os estudantes romenos entram em greve, exigindo melhores condições de vida, mas também a imposição do numerus clausus, visando limitar a presença judaica nas universidades; Codreanu apressa-se a regressar ao seu país para participar no movimento. Durante esta greve Codreanu convence-se que a altura é propícia à criação de um movimento de base mais ampla, e não apenas estudantil, o que o leva a fundar, em 1923, juntamente com o professor Cuza a Liga de Defesa Nacional Cristã.
Infelizmente a Liga parece estagnar e perder-se em disputas internas. Quando em 1927 Codreanu regressa de Grenoble, onde prosseguiu os seus estudos, decide começar de novo, fundando, a 24 de Junho de 1927, juntamente com alguns camaradas enrijecidos pelas inúmeras passagens que já todos tinham pelas cadeias romenas, a Legião de São Miguel Arcanjo. Nasce assim o Movimento Legionário, que mais tarde seria também conhecido pelo nome de Guarda de Ferro.
A década seguinte será marcada por sucessos eleitorais e por um clima de extrema violência política e arbitrariedade de parte a parte. A cada golpe infligido pelo regime político romeno, a cada arbitrariedade e violência, a Legião não hesita em responder na mesma moeda; os assassinatos e atentados sucedem-se. Tornar-se-ia fastidioso enumerar aqui todos os episódios de violência que ocorreram neste período… De qualquer maneira, aquilo que verdadeiramente nos interessa é a doutrina legionária, e não tanto as vicissitudes do seu combate.
Codreanu deixou alguns livros em que expõe a sua doutrina. De entre eles destacaremos os livros “Guarda de Ferro” e “Manual do Chefe”. O primeiro consiste numa autobiografia e história do Movimento Legionário, expondo simultaneamente a doutrina legionária. O segundo é, como o nome indica, um manual para todos os chefes de “cuib” (literalmente, ninho; o “cuib” era a célula base do Movimento Legionário); por entre indicações meramente práticas, como o tamanho dos estandartes ou as informações a incluir num relatório, encontramos também a exposição dos princípios legionários. E que princípios são esses? O melhor é deixarmos o próprio Codreanu falar: “O homem compõe-se de um organismo, ou seja, de uma forma organizada, depois de forças vitais, depois de uma alma. Podemos dizer o mesmo de um povo. E a construção nacional de um Estado, se bem que abranja naturalmente estes três elemen­tos, por razões de vária ordem e diferentes heranças, pode sobretudo assumir especialmente um ou outro destes aspectos. (…) Daí vem o carácter dos diferentes movimentos nacionais, que, ao fim e ao cabo, compreendem os três elementos e não deixam nenhum de lado. O carácter específico do nosso movimento vem-nos de uma antiga herança. Já Heródoto chamava aos nossos pais: “os Dácios Imortais”. Os nossos ancestrais geto-trácios tinham fé, inclusivamente antes do cristianismo, na imor­talidade e indestrutibilidade da alma, o que prova a sua orienta­ção em direcção à espiritualidade. A colonização romana acres­centou a este elemento o espírito romano de organização e de forma. (…) E é esta herança que o movimento legionário quer des­pertar (…) Partindo do espírito, quer criar um homem espiritualmente novo. Realizando esta tarefa enquanto “movimento”, aguarda-nos o despertar da segunda herança ou seja, a força romana politicamente formadora. Assim, o espírito e a religião são, para nós, o ponto de partida, o “nacionalismo construtivo” é o ponto de chegada, uma simples consequência. A ética simultaneamente ascética e heróica da Guarda de Ferro consiste em reunir um e outro ponto”.
Aqui está, resumida pelo próprio Codreanu, a doutrina legionária. Deixemo-lo falar mais uma vez, apenas para reforçar a ideia central do seu movimento: “Este país morre por falta de homens, não por falta de programas… Por outras palavras, o que precisamos não são programas, mas homens, homens novos.”
*
* *
Já vimos, ainda que sumariamente, a vida e a doutrina destes dois mártires. Falta-nos apenas falar da sua morte; e também aqui, no momento da morte, os seus percursos se cruzam.
José António é assassinado na manhã de 20 de Novembro de 1936, com apenas 33 anos. Desde Fevereiro de 1936 ele e outros líderes da Falange encontram-se encarcerados e o seu movimento proibido. O Alzamiento de 18 de Julho de 1936 encontra-o, portanto, na prisão e incomunicável. A 17 de Novembro é julgado na prisão de Alicante, juntamente com o seu irmão Miguel e a cunhada Margot, acusados de “rebelião militar”. Conta-nos o seu irmão Miguel que “Um dos homens que formavam o grupo de assassinos de José António, quando este se dirigia para junto do muro do pátio, disposto a receber a descarga, fixou os olhos no sobretudo de meu irmão. “Que bom agasalho levas!” – disse-lhe. José António, com naturalidade, respondeu-lhe: “Toma-o.” “Não, não, quando morreres.” José António sorriu, tirou o sobretudo e entregou-lho. No pátio estavam os que iam morrer com ele. Apontavam as armas e o barulho dos disparos confundiu-se com a voz do chefe da Falange que soltava o seu último “Arriba España”. Não tinham passado cinco minutos desde que abandonara meu irmão e ao transpor a porta da cela ouvia a descarga que punha termo à sua existência. Antes que pudesse dar ao pelotão a ordem de disparar, José António gritou como nunca ouvi gritar: “Arriba España”!”
Codreanu, por seu turno, foi assassinado pelos inimigos da sua pátria na noite de 29 para 30 de Novembro de 1938; tinha portanto, 39 anos. As condições da sua morte são ainda mais sinistras do que as que rodearam a morte de José António.
Nas eleições de 1937 o Movimento Legionário conseguiu um excelente resultado, tornando-se um dos maiores partidos da Roménia. O Rei, perante a possibilidade da Guarda de Ferro chegar ao poder e receoso do potencial revolucionário do partido, e após permitir a constituição de um governo que excluísse a Guarda, decide, no início de 1938, proibir todos os partidos, aprovar uma nova constituição de tipo “fascista” e instaurar uma ditadura pessoal. Desencadeia-se imediatamente a perseguição aos líderes legionários. Codreanu é preso em Abril de 1938, acusado de insultar um ministro e conspirar contra o Estado, sendo condenado a 10 anos de prisão. Na noite de 29 de Novembro, por ordem expressa do Rei, Codreanu e outros 13 líderes legionários são retirados das suas celas e levados para um bosque, onde são enforcados e posteriormente fuzilados. A sua morte é, oficialmente, atribuída a uma tentativa de fuga.
José António e Codreanu, através do seu exemplo de idealismo e abnegação, são ainda hoje uma inspiração para todos os defensores da Pátria, da Raça e da Tradição.
José António e Codreanu: Mártires do Ideal; Ontem, hoje, sempre: Presentes!

Saber escolher

«Recuemos, e será maior o perigo, avancemos, e será maior o esforço» (Séneca)

Perguntamo-nos “nós”, que nunca fizemos parte de nenhuma claque de futebol, que nunca os nossos pais nos incutiram ódio para com ninguém de outra raça ou outra religião (excluindo as anedotas normais dos “samoras”, a sovinice dos eleitos, e a ciganice parasita…!), que desde miúdos nos acostumamos a ver ano sim ano não um filme sobre o holocausto judeu, que desde a entrada na escola vimos a História contada pelos ditames estatais, quer antes do 25 de Abril, quer depois da dita data, até ao actual politicamente correctês – perguntamo-nos como viemos “aqui” parar?

Reforçando a ideia: desde tenra idade “aprendemos” quem eram os bons e quem eram os maus. Onde estavam os coitados dos perseguidos e quem eram os seus diabólicos perseguidores. De quem fugisse deste padrão educacional podia-se dizer muita coisa, mas não estava certamente enquadrado nas pessoas de bem, e se tinha ideologias e personagens diabólicas como ídolos, das duas uma, ou era nitidamente mau carácter ou mais um adolescente com crises próprias da idade…

Frisamos que estamos a falar da generalidade educacional das últimas gerações e não de casos esporádicos que culturalmente através de educação familiar, ou de amigos próximos, tiveram um contacto diferenciado com a História.

Dito isto, e sabendo que muita gente obrigatoriamente influenciada pelo establishment andou da esquerda para a direita, e da direita para a esquerda à procura de… um mal menor, que tem vindo a descobrir empiricamente com o tempo, à sua custa e da pior maneira, e portanto parou para pensar, reflectir, ou simplesmente num – basta, já chega – procurou e procura alternativas.

As alternativas que muita boa gente encontra, como num último balão de oxigénio, são-lhes enganosamente fornecidas, ainda, pelo establishment democrático em forma de Blocos de Esquerda, pretensamente anti-sistema, mas do qual, tão bem sabemos, eles também fazem parte. Perguntamo-nos se dita gente alguma vez poderia fazer parte das nossas fileiras ou se em última analise diríamos – está-lhes no sangue, são vermelhos, ou de outros – anarcas por natureza!

No entanto sabemos que, mesmo que por raras excepções, não é assim, e que por diversas formas eles chegam até “nós”, talvez por descobrirem quem realmente o Sistema persegue e encarcera, por delitos de opinião, nesta Europa (livre e democrática!).

Devemos no entanto estar cientes de uma coisa, somos nós, como já anteriormente referimos, “os maus da fita” pois é essa a imagem que os me(r)dia e restante escumalha passa de gente que pensa e age de modo diferente, e por conseguinte, com este nosso negro rótulo, quem de nós se pretende aproximar, alguma coisa de mau terá!… Como alguém dizia: Se não é tarado, alguma tara lhe iremos encontrar mais tarde!…

Quando os me(r)dia & associados diariamente fazem a lavagem cerebral dizendo o quão maus e perigosos “somos”, digamos que é de ter cuidado com quem nos procura, não acham?

Temos estado a abordar este tema referindo-nos a “nós” com aspas, precisamente para relembrar que nestas aspas cabe uma amálgama, raramente coesa, de gente, grupos e partidos, que os nossos inimigos chamam vulgarmente de “extrema-direita”, extrema esta mil vezes pior que qualquer extrema-esquerda que como bem sabemos é aceite e acarinhada pele sistema («les enfants terribles»).

Ao contrário dos democráticos e seus queridos extremistas de esquerda que brincalhonamente se picardiam, dando ares de oposições sérias com salutares alternativas, a “nossa gente”, por vezes muito douta, faz teses e escreve artigos sobre as “várias extremas-direitas” e sua forma de actuação ou inacção. Uns são acusados de violência gratuita e outros de se virarem demasiado para si mesmos e preferirem uma espécie de – como é mesmo? – contemplação baseados num qualquer orientalismo!…

Achamos por bem balizar estes dois posicionamentos para tentarmos perceber o que anda pelo meio destes dois postes da chamada extrema-direita, os da pancadaria gratuita e os “monges orientais” a olhar o vazio!

Pois bem, como podem observar, parece “termos” de tudo, agora meus caros é só uma questão de marketing, e olhem que para além dos da pancada e dos monges a “fauna” é imensa.

Cavalgar o Tigre (Introdução)

1. Orientação. O mundo moderno e os homens da tradição

Nesta obra propomo-nos estudar alguns dos aspectos da época actual, precisamente aqueles aspectos que a converteram essencialmente numa época de dissolução e, ao mesmo tempo, abordar o problema do comportamento e das formas de existência que, numa situação como esta, interessam adoptar a umdeterminado tipo de homem.

Esta última restrição nunca deverá ser perdida de vista. O que se vai ler não afecta a totalidade dos nossos contemporâneos, mas unicamente ao homem, ainda que comprometido com o mundo actual, inclusive onde a vida moderna alcançou o ponto mais amargo, problemático e paradoxal, não lhe pertence interiormente, no entanto não contempla a possibilidade de lhe ceder, e sente-se, por sua essência, de uma raça diferente da maior parte dos outros homens.

O lugar natural dum homem assim, numa terra onde não seria um estranho é no mundo da Tradição: esta expressão tem aqui um carácter particular que já utilizamos em outras ocasiões próximo das categorias utilizadas por René Guenon em sua análise crítica do mundo moderno. Segundo esta concepção particular, uma civilização ou uma sociedade são “tradicionais”, quando estão regidas por princípios que transcendem o que há de mais humano e individual, quando todas as suas formas lhe vêm do alto e quando estão inteiramente orientadas para cima. Mas, apesar da diversidade das suas formas históricas, o mundo da Tradição caracteriza-se por uma identidade e constância essenciais. Em outros livros tentamos precisar quais eram estes valores e as categorias fundamentais e imutáveis que constituem a base da civilização, sociedade ou organização da existência, que se possam qualificar de “normais” no sentido superior de um significado justo.

Tudo o que acabou por prevalecer no mundo moderno, representa a exacta antítese do tipo tradicional de civilização. A experiência mostra, de uma forma cada vez mais evidente, como partindo de valores da Tradição (admitindo que haja alguém, hoje em dia, que saiba reconhecê-los e assumi-los), é muito provável que se possa, mediante acções e reacções eficazes, modificar de uma forma apreciável o actual estado de coisas. Não parece possível que perante os últimos transtornos mundiais, nem as nações, nem as instituições, nem tão pouco a grande maioria dos indivíduos e as condições gerais da sociedade, assim como as ideias, os interesses e as forças predominantes desta época, possam servir de alavanca para uma acção deste género.

Sem dúvida, existem alguns homens que permanecem por assim dizer, de pé entre as ruínas, no meio desta dissolução e que, mais ou menos conscientemente pertencem a este outro mundo. Uma pequena tropa que parece disposta a combater mesmo em posições perdidas. Quando não se submetem, quando se negam a compromissos ou não se deixam seduzir por aquilo que lhes poderia assegurar algum êxito. Nesse caso, seu testemunho é válido; outros, pelo contrário isolam-se completamente, o que exige firmeza interior e condições materiais privilegiadas, hoje em dia cada vez mais raras. Em todo o caso é a segunda das possibilidades. Por fim é preciso mencionar, os escassos espíritos que no campo intelectual podem mesmo afirmar “valores tradicionais”, independentemente de todo o fim imediato, com o objectivo de desenvolver uma acção de “presença”, uma acção certamente útil para impedir que a conjuntura actual introduza um obscurecimento completo do horizonte, não só sobre o plano material, mas também no plano das ideias, e não permita distinguir nenhuma outra escala de valores que aquela que lhes é própria. Graças a estes homens, as “distâncias” podem ser mantidas: outras dimensões possíveis, outros significados de vida podem ser indicados a quem é capaz de distanciar-se, de não ficar somente a olhar as coisas próximas ou o presente.

Infelizmente isto não resolve o problema de ordem pessoal e prático que se coloca, não naqueles que têm a possibilidade de se afastar materialmente, mas naqueles que não podem ou não querem cortar a ligação com a vida actual e que, por isto mesmo, devem resolver o problema do comportamento a adoptar na vida, nem que seja só no plano das reacções humanas mais elementares.

Essencialmente pensando neste tipo de homens se escreveu a presente obra, e é a este homem que se aplica esta máxima de um grande “precursor”: “O deserto cresce. Desgraçado daquele que esconde desertos dentro de si.” Não encontra com efeito nenhum apoio no exterior. As organizações e instituições que numa civilização tradicional lhe haviam servido de ponto de apoio e permitido realizar-se integramente, organizar de maneira clara e precisa a sua própria existência, defender e aplicar no seu meio como em si mesmo, os valores essenciais que reconhecia interiormente, estas organizações e instituições não existem hoje em dia. Não convém pois, continuar a apresentar linhas de acção que, adequadas e legais em toda a civilização normal e tradicional não o são numa civilização anormal, num meio sócio, psíquico, intelectual e material completamente diferente, num clima de dissolução geral, num sistema de desordens constantes e, em todo o caso, sem uma legitimidade superior. Disto tudo resulta uma série de problemas específicos que nos propomos estudar em seguida.

Um ponto que deve ser esclarecido antes de tudo é a atitude a adoptar no que diz respeito às “sobrevivências”. Principalmente na Europa Ocidental subsistem hábitos, instituições e costumes do mundo de ontem, quer dizer, do mundo burguês, que resistem com muita persistência. Hoje em dia, quando se fala de crise, no fundo é da crise do mundo burguês do que se trata: são as bases da civilização e sociedade burguesa que sofrem esta crise, o objecto desta dissolução. Não é o que consideramos o mundo da Tradição. O mundo que se desintegra social, política e culturalmente, é aquele que se formou a partir da Revolução do Terceiro Estado e da primeira revolução industrial, mesmo se misturados com alguns vestígios de uma ordem mais antiga.

Quais são as relações que podem existir entre este mundo e o tipo de homem que nos interessa? Esta questão é essencial, pois na resposta que se lhe der, depende evidentemente o sentido a ser atribuído aos problemas de crise e dissolução, cada vez mais visíveis em nossos dias, e a atitude a adoptar, tanto a seu respeito, como em respeito ao que não foi ainda completamente minado ou destruído por eles.

A resposta não pode ser mais negativa. Nosso tipo de homem não tem nada a ver com o mundo burguês. Deve considerar tudo que é burguês como algo recente e anti-tradicional, nascido de processos negativos e destrutivos. Percebe-se muitas vezes, que os fenómenos actuais de crise são uma espécie de Némesis, o da volta do pêndulo: - são precisamente as forças, que no seu tempo, foram postas em marcha contra a antiga civilização tradicional europeia (não vamos entrar em detalhes), que se voltaram contra quem as havia evocado, destruindo-as uma a uma e levando mais longe, até uma fase ulterior mais avançada o processo geral de desintegração. Isto vê-se muito claramente no plano político-social, por exemplo nas relações evidentes que existem entre a revolução burguesa do Terceiro Estado e os movimentos socialistas e marxistas que seguiram, entre a democracia e o liberalismo por um lado e o socialismo do outro. Os primeiros serviram simplesmente para abrir a via aos segundos e estes, depois de os haverem deixado cumprir a sua função, não pensam senão em destruí-los.

Ocorrendo isto, há uma conclusão que é preciso rejeitar energicamente: a que consistiria em apoiar-se sobre o que sobrevive do mundo burguês, em defendê-lo e torná-lo como apoio para lutar contra as correntes de dissolução e subversão mais violentas, depois de ter tentado animar ou fortalecer estes vestígios com a ajuda de alguns valores mais altos e mais tradicionais.

Perante isto, a situação geral acentua-se cada vez mais, desde os acontecimentos cruciais que foram as duas grandes guerras mundiais e suas repercussões, adoptar esta atitude seria criar ilusões sobre as possibilidades práticas que existem. As transformações já ocorridas são demasiado profundas para serem reversíveis. As forças que estão em estado livre ou em vias de sê-lo, não são susceptíveis de serem reintegradas ao ponto das estruturas do mundo de ontem. É precisamente o facto das tentativas de reacção não se ligarem mais do que a estas estruturas desprovidas de toda a legitimidade superior, o que deu vigor e capacidade de se implantar às forcas de subversão. Por outro lado, tal via conduziria a um equívoco tão inadmissível sobre o plano ideal, como perigoso sobre o plano táctico. Como temos dito, os valores tradicionais – aqueles que nós chamamos “valores tradicionais” – não são os valores burgueses, mas sim a sua antítese. Reconhecer um valor a estas sobrevivências, associá-las de uma forma ou de outra aos valores tradicionais, utilizá-las para o fim que acabamos de indicar, levaria pois, quer a testemunhar uma pobre compreensão destes mesmos valores, quer a diminuí-los e a descer a uma forma de compromisso, ao mesmo tempo desprezível e perigoso. Perigoso pois, é o facto de ligar de uma forma ou de outra, as ideias tradicionais a formas residuais de civilização burguesa que iria expor estas, em mais de um aspecto legítimo e necessário, a sofrer o ataque inevitável, actualmente empreendido contra esta civilização.

É pois, para a solução oposta que nos devemos encaminhar mesmo se isto torna as coisas difíceis e comporta outro tipo de risco. É positivo cortar todos os laços com o que está destinado a desaparecer, mais ou menos em breve prazo. O problema será então manter uma linha de direcção geral sem apoiar-se em nenhuma forma dada ou transmitida, incluindo as do passado, que são autenticamente tradicionais mas que já pertencem à história. A continuidade não poderá ser mantida mais sobre o plano existencial, ou mais precisamente debaixo de uma forma de orientação íntima do ser, que deveria ir a par, com a maior liberdade individual virada para o exterior. Tal como se exporá de maneira detalhada a seguir, o apoio que a tradição poderá trazer não deve vir de esquemas regulares e reconhecidos de uma civilização nascida antigamente, mas sim, e antes de tudo, dos princípios doutrinais que ela continha, em estado pré-formal, ao mesmo tempo superior e anterior às formas particulares que se desenrolaram no curso da história, doutrina que no passado não pertencia às massas, mas que tinha o carácter de uma “doutrina interna”.

Além disso, existindo a impossibilidade de actuar de maneira positiva no sentido de um regresso ao sistema normal e tradicional, existindo a impossibilidade de ordenar organicamente e com coerência a sua própria existência no ambiente da sociedade, da cultura e dos costumes modernos, fica por saber em que medida se pode aceitar plenamente um estado de dissolução sem se ser influenciado interiormente por ele. Convém examinar igualmente, aquilo que na fase actual – em última análise, fase de transição – pode ser escolhido, separado do resto e assumido como forma livre de um comportamento, que exteriormente não seja anacrónico mas permita também identificar-se com o que há de mais avançado no pensamento e costumes contemporâneos, ainda que permanecendo interiormente determinado e orientado por um espírito completamente diferente.

A fórmula “ir, não onde se defende mas sim onde se ataca”, proposta por alguns, poderá ser adoptada pelo grupo dos homens diferenciados, descendentes da Tradição, aqueles que vamos tratar aqui. Isto significa que pode ser bom contribuir para derrubar o que vacila e pertence ao passado, ao mundo de ontem, em vez de assinalá-lo e de prolongar a sua existência. É uma táctica possível, cuja essência é impedir que a crise final seja obra de forças contrárias cuja acção se deverá entretanto aguentar. O risco de tal atitude é evidente: não se sabe quem terá a última palavra. Não há nada na época actual, assim mesmo, que não seja perigoso. Para quem permanece em pé, é talvez a única vantagem que tal atitude representa. Resumindo convém reter as seguintes ideias fundamentais:

- É preciso realçar o sentido de crise e o processo de dissolução que muitos deploram hoje em dia, e mostrar que o objectivo principal e real deste processo de destruição é a civilização e a sociedade burguesa, as quais, na escala dos valores tradicionais, tomavam o sentido de uma primeira negação do mundo que as havia precedido e que lhes era superior. Continuando, a crise do mundo moderno poderá eventualmente representar, segundo uma expressão hegeliana, uma “negação da negação”, e por consequência um fenómeno positivo. A alternativa é a seguinte: ou a negação da negação conduz ao nada – ao nada que brota das formas múltiplas do caos, da dispersão e do caos que caracterizam as numerosas tendências das últimas gerações; ou esta outra negação que apenas se esconde por detrás do sistema organizado da civilização material – ou esta negação vai criar para os homens que nos interessam aqui, um novo espaço livre, que eventualmente poderá representar a condição prévia de uma acção formadora posterior.

2. Fim de um ciclo. “Cavalgar o tigre”

Esta última ideia refere-se a uma perspectiva que, rigorosamente falando, não é a deste texto, pois diz respeito, não ao comportamento interior e pessoal, mas sim ao colectivo, não à realidade de hoje, mas sim a um futuro que não é possível hipotecar e do qual é essencial que não se faça depender de nenhuma forma o próprio comportamento.

Trata-se da perspectiva já mencionada anteriormente, segundo a qual a nossa época poderia ser, em última análise, uma época de transição. Vamos dedicar algumas palavras a este tema antes de abordarmos o problema principal que nos interessa, referindo-nos à doutrina de ciclos da vida e à ideia de que a época actual, assim como todos os fenómenos que a caracterizam, correspondem à fase terminal de um ciclo.

A fórmula que escolhemos como título deste livro “Cavalgar o Tigre”, pode servir de transição entre o que temos dito até aqui e a doutrina em questão. Esta fórmula do extremo oriente, significa que se uma pessoa consegue cavalgar um tigre, se o impede de nos atacar e se para além disso, se não cai, se permanece agarrado, pode acontecer que o consiga dominar; recordemos, para quem se interessa, que um tema análogo se encontra em muitas escolas de sabedoria tradicional, como o Zen japonês (as diversas situações do homem e do touro), e que a antiguidade clássica desenvolveu temas similares (as provas de Mitra, que se deixa arrastar por um touro furioso, sem o soltar, até que o animal se detém; então Mitra o mata).

Este simbolismo, aplica-se em vários planos. Pode referir-se a uma linha de conduta a seguir no plano interior, mas também a uma atitude que convém adoptar quando as situações críticas se manifestam no plano histórico e colectivo. Neste último caso, o que nos interessa é o vínculo que existe entre este símbolo e aquilo que ensina a doutrina geral da história, em particular sobre a sucessão das “quatro idades”. Esta doutrina, tal como tivemos oportunidade de expor em outras ocasiões, revestiu-se de aspectos idênticos tanto no Oriente como no Ocidente.

No mundo clássico fala-se do retrocesso progressivo da humanidade desde a Idade do Ouro, até ao que Hesíodo chama a Idade de Ferro. Nos ensinamentos hindus correspondentes, a idade final é chamada de Kali Yuga (Idade Sombra) e expressa o carácter essencial que lhe é próprio: precisamente num clima de dissolução, a passagem ao estado livre das forças individuais e colectivas, materiais, físicas e espirituais, que anteriormente tinham permanecido reprimidas de diversas formas, por uma lei proveniente do alto e por influências de ordem superior. Os textos tântricos deram uma imagem sugestiva desta situação, dizendo que correspondem ao “despertar” de uma divindade feminina – Kali – símbolo da força elementar e primordial do mundo e da vida, mas que se apresenta debaixo de aspectos infernais, como a deusa do sexo e dos ritos orgiásticos. “Adormecida” até agora – quer dizer, latente nestes últimos aspectos – estaria durante a “Idade Sombria” completamente desperta e em acção.

Tudo parece indicar que é precisamente a situação que se desenrola nestes últimos tempos e que teve seu epicentro na civilização e sociedades ocidentais, a que se estendeu rapidamente ao mundo inteiro; o facto da época actual se encontrar debaixo do signo do Aquário, poderá encontrar, por outro lado, uma interpretação normal em alusão às águas, nas quais tudo permanece em estado fluido e informe. Previsões formuladas à muitos séculos atrás – pois as ideias aqui expostas remontam a uma época longínqua – hoje se revelam singularmente actuais. Este contexto refere-se, como já dissemos, aos pontos de vista expostos, no que se apresenta de forma análoga o problema da atitude a adoptar durante a última idade, atitude aqui associada ao símbolo do tigre que se cavalga.

Com efeito, os textos que falam de Kali-Yuga e da Idade Sombria, também proclamam que as normas de vida válidas para as épocas em que as forças divinas permaneciam de certo modo vivas e actuantes, deviam ser consideradas como obsoletas durante a última idade. Esta veria aparecer um tipo de homem essencialmente diferente, cada vez mais incapaz de seguir os antigos preceitos, em razão da diferença do meio histórico, quer dizer planetário; estes preceitos, mesmo se fossem seguidos já não trariam os mesmos frutos. É por isto que se propõem agora regras diferentes e pelo que se aboliu a lei do segredo que cobria anteriormente algumas verdades, ou determinada ética e determinados ritos particulares, por causa do seu carácter perigoso e da antítese com as formas de uma existência normal, regulamentada pela Tradição Sagrada. O significado desta convergência de pontos de vista não escapa a ninguém. Estas ideias longe de terem, neste como em outros pontos, um carácter pessoal e contingente, referem-se essencialmente a perspectivas que o mundo da Tradição já havia conhecido quando foram previstas e estudadas situações gerais de um carácter irregular.

Examinemos agora como se aplica ao mundo exterior, ao meio em geral, o princípio consistente de cavalgar o tigre. Pode então significar que quando uma civilização atinge o seu auge é difícil alcançar um resultado qualquer resistindo, opondo-se directamente às forças em movimento. A corrente é muito forte e qualquer um correria o risco de ver-se arrastado. O essencial é não se deixar impressionar por aquilo que parece todo-poderoso, nem tão pouco pelo triunfo aparente das forças da época. Privadas de ligação com qualquer princípio superior, na realidade estas forças têm um campo de acção limitado.

Não faz falta pois auto-sugestionar-se pelo presente, nem pelo que nos rodeia, sem pressentir também as condições susceptíveis de se apresentarem mais tarde. A regra a seguir consiste em deixar livre o curso das forças e dos processos da época, permanecendo firmes e dispostos a intervir “quando o tigre, que não pode atirar-se sobre quem o cavalga estiver fatigado de correr”. Interpretado de uma forma particular o preceito cristão da não resistência ao mal, poderia ter um sentido análogo. Abandona-se a acção directa e cada um retira-se para posições mais reservadas.

As perspectivas que regem a doutrina das leis cíclicas estão aqui implícitas: quando um ciclo termina, outro começa, e o ponto culminante do processo é também aquele onde se produz o encaminhamento na direcção oposta. O problema da continuidade entre um ciclo e outro permanece no entanto exposto. Para recuperar uma imagem de Hofmansthal, a solução positiva seria a do reencontro entre os que souberam velar durante a longa noite e os que, talvez apareçam no novo amanhecer. Infelizmente não se pode estar seguro deste desenlace: não se pode prever com certeza de que forma nem em que contexto poderá manifestar-se uma certa continuidade entre o ciclo que chega ao seu fim e o ciclo seguinte. Convém pois conferir à linha de conduta, válida na época actual, daquela que antes havíamos falado, um carácter autónomo e um valor permanente e individual. Nós entendemos aqui, que a atracção exercida por perspectivas positivas, mais ou menos num breve plano não devem ter um papel importante. Inclusive poderiam estar ausentes por completo até ao fim do ciclo e as possibilidades apresentadas por um novo movimento, para além de um certo ponto podem dizer respeito a outros homens que, como nós próprios, se tenham mantido igualmente firmes, sem esperar nenhum resultado directo nem nenhuma mudança exterior.

Antes de abandonar o domínio introdutivo para abordar nosso tema principal, será talvez útil mencionar um outro ponto particular que está igualmente relacionado com as leis cíclicas. Trata-se das relações entre a civilização ocidental e as outras civilizações, particularmente a civilização oriental.

Entre aqueles que reconheceram a crise do mundo moderno e que renunciaram também a considerar a civilização moderna como a civilização por excelência, o apogeu e a bitola para qualquer outra civilização, há quem tenha voltado o seu olhar para o Oriente, onde subsiste uma orientação tradicional e espiritual da vida que, desde à longo tempo, deixou de servir ao Ocidente como base de organização efectiva dos diferentes domínios da existência. Inclusive tem-se perguntado se não se pode encontrar no Oriente pontos de referência úteis para a reintegração do Ocidente. René Guenon foi o defensor mais empenhado desta tendência.

Mas é preciso ver claramente sobre que aspectos se situa o problema, se se trata de simples doutrinas e de contactos “intelectuais” esta procura é legítima. Mas, convém assinalar, pelo menos em parte, que podemos encontrar exemplos e referências claras em nosso próprio passado ocidental e tradicional, sem necessidade de buscar numa civilização não europeia. Em todo o caso pouco se ganharia. Trata-se de um intercâmbio de alto nível entre elementos isolados que cultivam sistemas metafísicos. Se, pelo contrário, se aspira a influências reais com uma repercussão importante sobre a existência, não se pode ter ilusões. O Oriente segue agora o caminho que nós demoramos vários séculos a percorrer.

O “mito do Oriente” fora do círculo dos sábios e especialistas das disciplinas metafísicas é pois enganoso. “O deserto cresce”, não existe civilização que possa servir-nos de apoio, devemos enfrentar sozinhos nossos problemas. A única perspectiva, mas hipotética, que em contrapartida nos oferecem as leis cíclicas é esta: o processo decadente da “Idade Sombria” na sua fase final, começou entre nós; não está pois posto de parte que sejamos também nós os primeiros a superar o ponto zero, no momento em que outras civilizações, entradas mais tardiamente na mesma corrente, se encontrem, pelo contrário num estado similar ao nosso na actualidade, depois de ter abandonado – “superado” – e que oferecem ainda hoje os valores superiores e as formas de organização tradicionais susceptíveis de nos atrair. Resultaria pois que o Ocidente, invertendo os papéis, se encontraria numa situação para além do limite negativo e estaria qualificado para uma nova função de guia ou de chefe, muito diferente do que realizou no passado com a civilização tecno-industrial e material e que agora já debilitada teve como único resultado o nivelamento geral.

Quem sabe para alguns, estas breves indicações sobre perspectivas e problemas de ordem geral não tenham sido inúteis. Como tínhamos dito, voltaremos pois ao aspecto da vida pessoal que nos interessa: deste ponto de vista, definindo a orientação a dar a algumas experiências ou processos actuais com vista a extrair resultados diferentes dos que a maioria dos nossos contemporâneos consegue, importa estabelecer posições autónomas, independentes do que poderá ou não chegar a ocorrer no futuro.


- Julius Evola

Quando tudo parece perdido...

A vila Kanna fica no interior do Japão e apenas possui plantadores de arroz. Tudo na vila é feito para que tenham êxito na plantação do cereal. Mas tudo começa a dar errado quando bandidos aparecem nas épocas de colheita e roubam a produção do ano com suas máquinas gigantescas e armamento bélico pesado. Como se já não fosse o suficiente, ainda levam as mulheres e crianças da vila. Cansados de tudo, o ancião da vila decide que algumas pessoas irão para a cidade procurar a ajuda de um samurai para derrotar os bandidos. Os que vão para a cidade, com apenas um saco de arroz para oferecer ao samurai que procuram, são: Kirara, a sacerdotisa da água, responsável por procurar locais bons para plantar com a ajuda de seu amuleto; Rikichi, um dos camponeses que teve sua mulher raptada pelos bandidos e, por fim, Komachi, a irmãzinha menor de Kirara que sempre está alegre. Mas na cidade a procura pelos samurais não é fácil. Dos poucos ainda existentes, nenhum quer se candidatar a lutar recebendo apenas arroz como pagamento. Até que Kirara vê um tumulto ser desfeito por um samurai de vestes brancas e cabelo comprido, Kambei Shimada, e decide que ele será o samurai que a ajudará. No meio do tumulto, a garota conhece Kikuchiyo, um samurai com corpo de metal; e Katsushiro, um samurai que, segundo Kirara, não possui cheiro de batalha. Depois de algumas perseguições do governo da cidade, Kirara é salva por Kambei e este decide ajudar a garota. Mas, segundo o samurai, apenas um não é suficiente para derrotar os bandidos, são necessários mais seis. Então, começa a busca por eles para salvar a vila de Kanna.
Além do próprio Kambei, Katsushiro unem-se ao grupo de artistas Gorobei, o cortador de lenha Heihachi, o velho amigo de Kambei conhecido como Shichiroji e, por fim, o rival do samurai de vestes brancas, cujo nome é Kyuzo. A ida para vila Kanna é muito difícil por causa de varias perseguições, mas o grupo finalmente chega ao seu destino.
A batalha contra os bandidos exige uma mobilização de toda a vila, tornando necessário ensinar aos camponeses como manejar em armas para a grande guerra contra os meliantes. A guerra é dura e gera algumas baixas (leia-se “mortes”) no grupo dos heróis. Mas ainda não é o fim, pois eles precisam ir a capital para destruir o tirano responsável por tudo. Será que os samurais conseguirão resgatar todos os raptados e trazer paz a vila Kanna e todas as outras?

José António Primo de Rivera - Presente!

A 20 de Novembro de 1936 um Homem de excepção sai da sua cela da Prisão de Alicante e é conduzido até ao pátio onde iriam pôr fim à sua vida. Um dos verdugos olha fixamente para o sobretudo que o prisioneiro levava sobre os ombros.

José António apercebe-se daquele olhar invejoso que os vermelhos tão bem souberam manipular em seu proveito…

— Toma, é para ti, fica com ele.

O desgraçado do verdugo nem queria acreditar no que ouvia e pegou no casaco que José António lhe oferecia.

José António Primo de Rivera foi executado sem culpa formada pelos vermelhos (republicanos) na Prisão de Alicante.

Não esquecemos nem perdoamos.

José António primo de Rivera,
PRESENTE!

A Doutrina das Quatro Idades (excerto)

Por Julius Evola

Se o homem moderno, até a uma época ainda muito recente, concebeu o sentido da história como uma evolução e o exaltou como tal, o homem da Tradição teve consciência de uma verdade diametralmente oposta a esta concepção. Em todos os antigos testemunhos da humanidade tradicional pode-se encontrar sempre, de uma forma ou doutra, a ideia de uma regressão, de uma «queda»: de estados originários superiores, os seres teriam descido a estados cada vez mais condicionados pelo elemento humano, mortal e contingente. Este processo involutivo teria tido o seu início numa época muito recuada. O termo èddico ragna-rökkr, «crepúsculo dos deuses», é o que caracteriza melhor esse processo. E não se trata de um ensinamento que no mundo tradicional tenha sido expresso de uma forma vaga e genérica: pelo contrário, foi explicitado numa doutrina orgânica, cujas diferentes expressões apresentam em grande medida um carácter de uniformidade: na doutrina das quatro idades. Um processo de decadência gradual ao longo de quatro ciclos ou «gerações» — é este, tradicionalmente, o sentido efectivo da história, e por isso também o da génese do que nós chamamos, num sentido universal, «mundo moderno». Esta doutrina poderá portanto servir de base às considerações que se seguirão.

A forma mais conhecida da doutrina das quatro idades é a própria da tradição greco-romana. Hesíodo fala precisamente de quatro idades, assinaladas pelos metais ouro, prata, bronze e ferro, inserindo depois entre as duas últimas uma quinta era, a era dos «heróis», que contudo se verá ter só o significado de uma restauração parcial e especial do estado primordial. A tradição hindu tem a mesma doutrina, sob a forma de quatro ciclos chamados respectivamente satyâ-yuga (ou kortâ-yuga), tretâ-yuga, dvâpara-yuga e kali-yuga (que quer dizer «idade obscura»), juntamente com a imagem do desaparecimento progressivo, no decorrer destes ciclos, de cada um dos quatro pés ou apoios do touro que simboliza o dharma, a lei tradicional. A redacção irânica está próxima da helénica: as quatro idades são conhecidas e assinaladas pelo ouro, prata, aço e uma «liga de ferro». O ensinamento caldeu repete este ponto de vista quase nos mesmos termos.

Em particular, mais recentemente encontra-se a imagem do carro do universo como uma quadriga que, conduzida pelo deus supremo, é puxada numa corrida circular por quatro cavalos que representam os elementos: as quatro idades correspondem à sucessiva predominância de cada um desses cavalos, que então arrasta consigo os outros, segundo a natureza simbólica, mais ou menos luminosa e rápida, do elemento que esse cavalo representa. Embora numa transposição especial, reaparece a mesma concepção na tradição judaica, na profecia que fala de uma estátua resplandecente, com a cabeça de ouro, em que o peito e os braços são de prata, o ventre e as coxas de cobre e as pernas e os pés de ferro e argila: estátua esta que representa, nas várias partes divididas desta maneira, quatro reinos que se sucedem a partir do reino áureo do «rei dos reis» que recebeu «do deus do céu potência, força e glória». Se em relação ao Egipto já se conhece a tradição referida por Eusébio sobre três diferentes dinastias, formadas respectivamente por deuses, semideuses e manes, aqui pode ter-se o equivalente das três primeiras idades — da do ouro à do bronze — de que falámos acima. Igualmente, se as antigas tradições aztecas falam de cinco sóis ou ciclos solares, em que os primeiros quatro correspondem aos elementos e nos quais se vê figurarem, tal como nas tradições euro-asiáticas, as catástrofes do fogo e da água (dilúvio) e as lutas contra os gigantes que veremos caracterizarem o ciclo dos «heróis» acrescentado por Hesíodo aos outros quatro, também se pode reconhecer aqui uma variante do mesmo ensinamento de que, por outro lado, noutras formas e mais ou menos fragmentariamente, se podem encontrar reminiscências também entre outros povos.

Citações

«A paridade de qualquer voto, que reduz a pessoa a um simples número, é uma grave ofensa ao indivíduo no seu aspecto pessoal e diferenciado.»

«Seguimos um mecanismo de involução e não de evolução. Do ponto de vista espiritual, a história regista um mecanismo de degradação mais do que de progresso.»

«Um "Reich Europeu", não uma "Nação Europeia", seria a única fórmula aceitável do ponto de vista tradicional para a realização de uma unificação autêntica e orgânica da Europa.»



Ordem vs. Partido Político

(Também para assinalar o nosso primeiro ano de presença blogosférica, publicamos a primeira parte deste artigo do camarada e amigo Eduard Alcántara. O texto completo será publicado no próximo número do Boletim Evoliano.)

Por Eduard Alcántara

Escrevemos estas linhas ante o pedido que alguém nos realizou para que avaliássemos o papel que uma Ordem poderia desempenhar nos nossos dias e quais os objectivos que deveria prosseguir.

Empenhamo-nos nesta tarefa partindo do princípio de que a Ordem se encontra nos antípodas do Partido Político; que Ordem está para o Mundo Tradicional da mesma maneira que o Partido Político está para o Mundo Moderno; que a Ordem estrutura e o Partido Político divide; que a primeira dá coesão e sentido a uma determinada comunidade e que, pelo contrário, o segundo coloca em confronto os membros da sociedade em que actua; que a Ordem encarna e defende uma determinada cosmovisão e o Partido representa uma ideologia política; que dita visão do mundo de que a Ordem é portadora é de tipo Superior (Transcendente) e que, pelo contrário, a ideologia que caracteriza o Partido costuma ser de natureza materialista; que a Ordem pretende elevar a pessoa até ao Absoluto e que, pelo contrário, o Partido pretende unicamente satisfazer as suas necessidades mais primárias; que a linha traçada pela ordem é vertical enquanto que a delineada pelo Partido é horizontal; que a Ordem pretende compreender o Ser enquanto que o Partido se circunscreve ao existir; que o olhar da primeira é ascendente enquanto que o do segundo é descendente, pois a primeira pretende – encaminhando-o em direcção ao Alto – a libertação do homem em relação a tudo o que o condiciona e escraviza e, pelo contrário, o resultado da acção do segundo acaba acorrentando ainda mais o indivíduo ao inferior – isto é, às pulsões do consumismo inerente ao modo de vida promovido pela modernidade e aos baixos instintos dissolventes do hedonismo que tem nela a sua razão de ser; que a Ordem valoriza a qualidade e o elitismo e o Partido aspira à exaltação das massas e pretende erigir-se em líder da quantidade (o seu êxito depende do número de votos obtidos); que a Ordem é coisa de minorias (constituídas por aqueles que se sabem auto-governar) enquanto que o Partido abrirá as suas portas a qualquer um (independentemente das suas aptidões, qualidades e valores); que a Ordem advogará a nobre finalidade do desenvolvimento interior dos seus membros enquanto que única coisa que o Partido pretende destes são mesquinhices como contribuições monetárias (seja o pagamento de cotas ou doações), influências ou participação enquanto meros instrumentos para cumprir uma simples função mecânica (por exemplo, a colagem de cartazes durante uma campanha eleitoral…); que a Ordem exige aos seus membros enquanto o Partido lhes faz promessas; que a Ordem só percebe a noção de serviço enquanto o Partido apenas entende o servir-se; que a Ordem aspira a tornar-se a força animadora e o alento vital de unidades supranacionais (o Imperium) que tenham como pólo a Ideia (o Absoluto), e que pelo contrário o Partido não hesita em provocar a dinamitação de qualquer unidade política desde que isso lhe traga benefícios (mais poder); que a Ordem se estrutura na base dum princípio de hierarquia e que o Partido oculta os seus turvos procedimentos sob uma aparência de funcionamento democrático e fazendo do igualitarismo um dogma.

1 ano na blogosfera

Faz hoje precisamente um ano, que a Legião Vertical aderiu à «blogosfera». Como presente de aniversário, resolveu dar aos seus leitores, uma nova página, tornando assim, o blogue muito mais apelativo.

A todos, saudações legionárias!

Templários

Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória.
-
13 de Outubro de 1307
13 de Outubro de 2007

Equinócio de Outono


Legião em marcha, algures numa serra de Portugal
-
Caros amigos e camaradas,

Mais uma vez nos reunimos para celebrarmos desta feita o ciclo das colheitas, da abundância, da maturidade da vida.
Como herdeiros da Tradição Primordial não podíamos deixar de comemorar este Equinócio de Outono de 2007. Esta é uma das actividades anuais em que a Legião Vertical faz questão de convidar os nossos simpatizantes e amigos.
Não existe qualquer cerimónia ou ritual de cariz mais reservado, e por isso toda a gente de bem e de boa-vontade pode passar connosco uns momentos de alegre camaradagem.

As festividades e celebrações associadas aos ciclos da Terra e marcadas pelo Sol nos solstícios e equinócios eram realizadas desde a mais remota antiguidade por várias civilizações e em diferentes pontos do planeta: desde as chamadas culturas pré-colombianas (Incas, Maias, Aztecas); na Europa (celtas, gregos e romanos); até ao Egipto e extremo-oriente, cada um à sua maneira e em seu tempo, não deixavam de vincar estas datas. - melhor dizendo - todas as culturas tradicionais vivem em função destes Ciclos. Pois para o Homem Tradicional a História não é uma linha recta mas cíclica, mais concretamente "espiralada". São estas etapas da Natureza que comandam, ou comandavam as grandes civilizações do passado. Até a guerra estava condicionada a determinadas épocas do ano. Também sabemos o que as novas religiões vieram fazer, ao sobrepor as suas datas festivas sobre as antigas celebrações, usando novas roupagens e nomes de santos, não fizeram mais do que usurpar, ou actualizar rituais mais antigos, para não sermos tão duros. .

O Outono é o momento da maturidade tanto dos frutos outonais bem como das pessoas, daí a expressão – o Outono da Vida – que se emprega a quem atingiu uma certa idade e alguma plenitude e equilíbrio. O que não deixa de ser “engraçado” a relação com o Horóscopo, pois esta nesta data que o Zodíaco entra no signo da Balança, símbolo de equilíbrio e justiça que devemos alcançar, se não antes, ao menos que o seja no nosso Outono da Vida!

O Outono está também associado ao Oeste, ao Poente, à direcção na qual o "Sol morre" após cruzar os céus. Enfim, mais uma vez – a maturidade – tanto nos frutos quanto nos humanos, tanto no mundo físico como no espiritual.
Para finalizarmos, recordamos que quando na Primavera saudamos o Sol, dando-lhe as boas-vindas, fomos também participes de um acto de fecundação celebrado pelo Astro-Rei e a nossa Terra-Mãe, que assim foi dando à luz os frutos dessa Sagrada União até chegarmos ao Equinócio de Outono que hoje celebramos.
Festejamos portanto alegres, com pão e vinho na mesa, esta nossa união aos tradicionais ciclos da vida – e que a entrada desta nova estação nos traga a força serena para permanecermos DE PÉ NUM MUNDO EM RUÍNAS!

O "Estado da Ordem" e as SS

(Segunda parte)
-
Hitler desconfiava dos descendentes das velhas casas reinantes alemãs, mas Himmler, que tinha um fraco por eles, afirmava que as SS eram o único corpo do III Reich que convinha a príncipes. Com efeito, vários representantes da nobreza vieram a fazer parte desse corpo. O príncipe Waldeck-Pyrmont alistou-se em 1929 e, em 1933, os príncipes Mecklenburg, Hohenzollern-Sigmaringen, Lippe-Biesterfeld, etc. O príncipe Philippe de Hesse era amigo de longa data de Himmler. Nos últimos anos, a aproximação entre a importante organização do III Reich e a nobreza alemã traduziu-se nas relações cordiais mantidas com o Herrenklub de Berlim e no discurso de Himmler à Deutsche Adelsgenossenschaft (corporação da nobreza alemã). As relações com o exército eram mais frias, menos por divergências de orientação que por questões de prestígio, ao serem criados regimentos armados e militarizados nas SS e, por fim, verdadeiras divisões, que tomaram o nome de Waffen-SS. Mas foi Paul Hausser, saído do exército com o posto de tenente-coronel para militar nas fileiras da "revolução conservadora" e do Stahlhelm de Seldte, que reorganizou em 1935 a academia SS e passou a supervisionar a escola de cadetes no Welfenschloss de Brunswick.
Na sua evolução, as SS ramificaram-se em secções múltiplas, algumas das quais, pelo seu carácter específico, puseram em segundo plano os aspectos relativos à Ordem. Abstraiamo-nos aqui da SS Totenkopf, com funções paralelas às da polícia comum e da polícia do Estado (aliás, por decreto do ministério do Interior, Himmler foi nomeado comandante da polícia em 17 de Junho de 1936). Este sector das SS é o que é posto em questão por certos aspectos negativos do corpo, aspectos que viriam a ser largamente utilizados para tornar abominável a totalidade das SS. Pela nossa parte, referiremos somente a Verfügungstruppe SS, a força armada "de reserva", directamente dependente do chefe do Reich. Em Julho de 1940, deu nascimento às Waffen-SS, isto é, a unidades militares de elite, cujas façanhas na II Guerra Mundial (tendo em conta a formação pessoal do homem SS) iriam impor ao inimigo respeito e admiração. A secção Rusha (iniciais de Rasse und Siedlungshauptamt), que se ocupava de questões raciais e da colonização interna, pode também ser posta de lado. Aqui, só terão interesse as iniciativas de ordem cultural das SS.
A realização do ideal de Himmler deparou com uma espécie de handicap2, já que, no seu sentido próprio, uma Ordem pressupõe um fundamento espiritual que, neste caso preciso, não podia referir-se ao catolicismo. Com efeito, a orientação anti-cristã, a ideia de que o cristianismo era inaceitável por tudo o que contém de não-ariano e de não-germânico, era muito corrente nas SS e, apesar da existência de tensões entre Himmler e Rosenberg, neste ponto havia uma indiscutível convergência de opiniões. Excluídos cristianismo e catolicismo, o problema da visão do mundo reportava-se em tudo ao que ia mais além da disciplina severa e da formação do carácter. As SS ambicionavam ser uma Weltanschauuliche Stosstruppe, isto é, uma força de choque no domínio, precisamente, da visão do mundo. No seio das SS tinha-se constituído há muito o S.D. (Sicherheitsdienst, serviço de segurança) que, em princípio, devia ter actividades culturais e o controle cultural (declaração de Himmler de 1937). Apesar do S.D. ter evoluído depois noutras direcções, na contra-espionagem, poe exemplo, o VII Gabinete manteve o seu carácter cultural e fizeram parte do mesmo notáveis cientistas e professores. Aliás, o S.D. podia tornar-se um SS ad honorem (Ehrendienst, serviço honorífico), possibilidade que contemplava as personalidades da cultura que haviam contribuído favoravelmente no sentido indicado. Pode citar-se, por exemplo, o Prof. Franz Altheim da Universidade de Halle, reconhecido historiador da Antiguidade e de Roma, e o Prof. Menghin da Universidade de Viena, eminente especialista da pré-história. A Ahnenerbe, instituição especial das SS, tinha por tarefa levar a cabo as investigações sobre a herança das origens, desde o domínio dos símbolos e das tradições ao domínio arqueológico.
Com efeito, a atenção voltara-se para o que se podia retirar dessa herança em matéria de cosmogonia e, nesse campo, superou-se o exclusivismo nacionalista de certos meios. Assim, por exemplo, Himmler subvencionou o holandês Herman Wirth, autor de A Aurora da Humanidade, volumosa obra sobre as origens nórdico-atlânticas, e convidou como conferencista um autor italiano que, mantendo a maior reserva relativamente ao catolicismo e ao cristianismo e evitando certos desvios de Rosenberg e de outros autores 3, tinha também pesquisado nessa área e no mundo da tradição em geral.
De tudo isto se deduz que as SS se inseriam num quadro mais complexo e muito diferente do que geralmente se supõe. Apesar de muitas das suas iniciativas terem ficado apenas no projecto, a circunstância de terem sido concebidas tem muitíssimo sentido. Por princípio e segundo o parecer da Direita, o ideal de um Estado da Ordem, oposto ao Estado totalitário de massas e ao Estado-partido, só pode ser julgado positivamente. Aliás, já exprimimos a mesma opinião na crítica que fizemos à noção fascista do partido único. No caso específico da Alemanha, tudo dependia da integração dos elementos da Direita e da rectificação de alguns aspectos do III Reich que, para alguns representantes da "revolução conservadora" e do espírito prussiano, era uma contrafacção usurpadora das suas ideias.
Progressivamente, as SS ganharam importância política e chegou a falar-se de um "Estado dentro do Estado" ou, mais abertamente, de um "Estado SS". De facto, havia células SS em numerosos postos-chave do Reich, na administração, na diplomacia, etc. O conceito de um Estado da Ordem implicava realmente que os homens da Ordem fossem designados para os seus postos, como foi o caso da nobreza no passado.
Finalmente, uma alusão às Waffen-SS. A partir de Julho de 1940, as formações SS que, originalmente e em tempo de paz, foram concebidas como "força de reserva", passaram a unidades militares e a divisões blindadas e, não obstante a sua grande autonomia, bateram-se ao lado da Wehrmacht. É das Waffen-SS que nasce nos finais da II Guerra Mundial o que veio a chamar-se "o primeiro exército europeu". Himmler aprovou a ideia de Paul Hausser, mais tarde retomada por Gottlob Berger, de constituir divisões das Waffen-SS com voluntários de todas as nações para lutar contra a Rússia comunista e defender a Europa e a sua civilização. Na prática, retomava-se a missão da Ordem dos Cavaleiros Teutónicos como guarda do Leste e, simultaneamente, o espírito que tinha animado os Freikorps, voluntários que, por iniciativa própria, combateram os bolchevistas nas regiões orientais e nos países bálticos depois do fim da I Guerra Mundial. No total, mais de dezassete nações estavam representadas nas Waffen-SS com verdadeiras divisões: franceses, belgas, holandeses, escandinavos, ucranianos, espanhóis, suiços, etc. 4 No conjunto, cerca de 800.000 homens, dos quais só uma parte procedia da zona germânica. Os voluntários não se preocuparam em serem acusados de traidores e colaboradores, mas, terminada a guerra, os sobreviventes foram ferozmente perseguidos nas suas pátrias 5.
Num discurso pronunciado em Poznan em 4 de Outubro de 1943, Himmler falou abertamente das SS como uma Ordem armada que no futuro, eliminada a União Soviética, seria a guarda da Europa nos Urais contra "as hordas asiáticas". Foi uma mudança importante de perspectiva, na medida em que o arianismo deixou de se identificar exclusivamente com o germanismo. Combatia-se, não por um Nacional-Socialismo eventualmente expansionista e racialmente unilateral, não pelo pangermanismo, mas por uma ideia superior, pela Europa e por uma Ordem Nova europeia. A orientação ganhou terreno nas SS e exprimiu-se na declaração de Charlottenburg publicada pelo Gabinete Central das SS já perto do fim da guerra. O texto era a resposta à declaração de S. Francisco feita pelos Aliados sobre os objectivos da guerra, a "cruzada da democracia". A declaração de Charlottenburg tratava da concepção do homem e da vida própria ao III Reich e, sobretudo, da ideia da Ordem Nova, que não devia ser hegemónica, mas federalista e orgânica.
Recordemos que se deve a Himmler uma tentativa de salvação in extremis (em que Hitler viu uma traição). Por mediação do conde Bernadotte, Himmler transmitiu aos Aliados ocidentais uma proposta de paz separada para poder continuar a guerra apenas contra a União Soviética e contra o comunismo. Sabe-se que a proposta — que, a ser aceite, teria garantido outro destino à Europa, evitaria a "guerra fria" e a passagem para o comunismo da Europa situada na "cortina de ferro" — foi brutalmente rejeitada em nome de um cego extremismo ideológico, exactamente como, pelas mesmas razões, foi rejeitada a oferta de paz que Hitler fez à Inglaterra em termos mais que razoáveis num discurso do verão de 1940 e num momento em que os alemães eram vencedores em todas as frentes.
-
NOTAS:
2 Em francês no texto ( N.T.)
3 No domínio das publicações, é pena ter-se permitido a um hebdomadário ter como título Das Schwarz Korps, uma vez que esse jornal se empenhava em ataques violentos contra o clero católico e num anti-semitismo não menos brutal.
4 E ainda italianos, russos, letões, ingleses, portugueses e americanos ( N.T.)
5 Infâmias sem nome foram cometidas pelos vencedores americanos quando já tudo estava perdido, ao entregarem à União Soviética os regimentos de voluntários ucranianos que se tinham rendido a eles e só a eles e apesar de saberem perfeitamente que os enviavam para o matadouro.
Note-se que na formação das novas unidades das Waffen-SS quase tudo se centrou no aspecto militar, sendo muitas vezes relegado para segunda instância o que se referia ao ideal de uma Ordem. O comandante de uma divisão blindada das SS, o general Steiner, no seu livro Die geächtete Armee, pretendeu depois da guerra que essas formações se situavam no mesmo plano da Wehrmacht, que, portanto, deviam ser tratadas como tal, e que nada tinham a ver com as "fantasias românticas" de Himmler (da sua ideia das Waffen-SS como Ordem). A esse respeito, porém, o general Steiner pronunciou-se de maneira antipática e presunçosa.

O "Estado da Ordem" e as SS


Julius Evola
-
(Primeira de duas partes)
Consideremos agora algumas iniciativas especialmente interessantes do III Reich em que agiram influências e exigências ligadas em parte às ideias da "revolução conservadora". Trata-se do que se relaciona com o conceito ou ideal do Ordenstaat, isto é, de um Estado dirigido por uma Ordem (em oposição parcial tácita à fórmula do Estado-partido) acima das fórmulas colectivizantes da Volksgemeinschaft, colectividade nacional-racial, e do Führer-Staat de base totalitária, populista e ditatorial.
De certo modo, retomou-se a tradição das origens prussianas. Sabe-se que o nó original da Prússia foi uma Ordem, a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, chamada em 1226 pelo duque polaco Konrad de Mazovie a defender as fronteiras do Leste. Os territórios conquistados e os dados em feudo formaram um Estado dirigido por essa Ordem e protegido pela Santa-Sé, da qual dependia no plano da disciplina, e pelo Sacro Império Romano. O Estado englobava a Prússia, o Brandeburgo e a Pomerânia. Em 1415, voltou aos Hohenzollern. Em 1525, com a Reforma, o Estado da Ordem "secularizou-se", emancipou-se de Roma, mas, mesmo desaparecido o laço propriamente confessional da Ordem, manteve o seu fundamento ético, ascético e guerreiro. Assim se continuou a tradição que deu forma ao Estado prussiano nos seus aspectos mais característicos. Ao mesmo tempo que a Prússia se constituía em reino, criava-se em 1701 a Ordem da Águia Negra, ligada à nobreza hereditária, que tomou por divisa as origens e o princípio clássico da justiça: Suum cuique. Interessa notar que na formação prussiana do carácter, especialmente entre o corpo de oficiais, se faz referência explícita à retomada do estoicismo no sentido do domínio sobre si mesmo, à firmeza de alma e a um estilo de vida sóbrio e íntegro. Assim, por exemplo, no Corpus Juris Militaris, introduzido no século XVIII nas escolas militares, recomendava-se aos oficiais o estudo das obras de Séneca, de Marco Aurélio, de Cícero e de Epicteto. Marco Aurélio foi uma das leituras preferidas de Frederico o Grande. Correlativamente, alimentava-se antipatia pelo intelectualismo e pelo mundo das letras (recorde-se a propósito a atitude sarcástica e drástica de Frederico-Guilherme I, o "rei dos soldados", que queria fazer de Berlim uma "Esparta nórdica" 1. A fidelidade à Coroa (liberdade na obediência) e o princípio de serviço e de honra caracterizavam a classe política que dirigia o Estado prussiano, antigamente um Estado da Ordem, conferindo-lhe forma e poder.
Falta indicar a influência que em período mais recente, durante a república de Weimar, a Bundesgedanke, o pensamento ou ideal do Bund, conducente ao esboço de formas organizativas, exerceu em certos meios. Bund significa geralmente liga ou associação. Neste caso específico, porém, a expressão tem um conteúdo próximo de Ordem e não deixa de ter relação com o que se designou em certas pesquisas etnológicas e sociológicas com o nome de Männerbund, isto é, "sociedade de homens". Pensava-se numa elite definida por uma solidariedade viril e por uma espécie de auto-legitimidade. Na Alemanha, antes do Nacional-Socialismo, apareceram diferentes Bünde que, embora modestos nos seus efectivos, tinham orientações variadas e de um carácter quase sempre exclusivo. Quando os interesses que cultivavam interferiam no domínio político, tornavam-se partidários de um regime de elite, oposto aos regimes de massas.
Em face de tais precedentes, a ideia que podia corrigir o hitlerismo era que o Estado devia ser dirigido, mais que por um partido único, por qualquer coisa semelhante a uma Ordem. Por consequência, uma das tarefas fundamentais do III Reich seria a criação de quadros qualificados mediante a formação sistemática de uma elite concebida como a encarnação típica da ideia do novo Estado e da visão do mundo que lhe correspondia. Com essa pequena diferença relativamente à tradição precedente, que não podemos deixar aqui de considerar, além das qualidades de carácter e físicas, o factor raça — com particular referência ao tipo nórdico — eram valorados. Nesse sentido, o III Reich tomou, principalmente, duas iniciativas.
A primeira, foi a constituição pelo Partido de três Ordensburgen, castelos da Ordem. Eram complexos com edifícios cuja arquitectura se inspirava no velho estilo nórdico-germânico, com vastos terrenos anexos, bosques, prados e lagos, onde os jovens eram acolhidos depois de uma selecção prévia. Era-lhes dada formação militar, física, moral e intelectual, ensinada uma certa visão do mundo, e uma parte era especialmente consagrada a tudo o que dizia respeito a coragem e resolução, incluindo provas muito arriscadas. Entre outras coisas, reconstituíam-se pleitos com aspirantes, os Junker, que seguiam o seu desenrolar desempenhando o papel do público. Escolhiam-se processos em que a honra e outros valores éticos tinham especial destaque a fim de experimentar por meio de uma série de discussões a sensibilidade moral e as faculdades naturais de julgamento dos indivíduos. Rosenberg supervisava os Ordensburgen. As suas ideias serviam de base essencial à doutrinação, o que, dadas as reservas que fizemos, insinuava no conjunto um factor problemático. Os jovens saídos dos Ordensburgen, onde viviam uma vida em sociedade de homens sós isolados do resto do mundo, eram escolhidos para entrarem na posse de um título especial que lhes dava preferência no acesso a funções políticas e postos de responsabilidade no III Reich, ou, melhor ainda, no III Reich que havia de vir.
As SS, porém, tinham muito mais importância. Com a conhecida propaganda do pós-guerra, a simples alusão às SS leva a maioria das pessoas a pensarem automaticamente na Gestapo, em campos de concentração, na missão de certas unidades SS na repressão ou em represálias durante a guerra, propaganda que não é mais que simplificação grosseira e tendenciosa. Não vamos aqui abordar o assunto, uma vez que não pretendemos ocupar-nos de contingências. Neste, como noutros casos, interessa-nos estudar os princípios e as ideias directrizes, independentemente daquilo a que algumas das suas aplicações possam ter dado lugar. Devemos, pois, trazer à luz do dia certos aspectos das SS geralmente ignorados (e que se pretende manter ignorados).
Na origem, as duas letras SS eram as iniciais de Saal-Schutz, designação de uma espécie de guarda pessoal de que Hitler dispunha no primeiro período da sua actividade para a protecção e o serviço de ordem das reuniões políticas. Nessa altura, não passava de um grupo reduzido. Mais tarde, os dois S passaram a significar Schutz-Staffeln (grupo de protecção, literalmente) e foram estilizados com duas linhas em ziguezage, que reproduziam um velho signo nórdico-germânico, as runas da vitória e também da força fulminante. Chegou-se à formação de um verdadeiro corpo, agora para protecção do Estado — o Corpo Negro, diferente dos Camisas Castanhas, ou SA, de que Hitler e Goering se serviram em 30 de Junho de 1934 para pôr fim, como vimos, às veleidades da "segunda revolução" radical no interior do Partido. Pelo seu desempenho nessa acção, as SS adquiriram estatuto e poderes especiais e passaram a ser a "guarda da revolução nacional-socialista".
O organizador das SS foi Heinrich Himmler, mais tarde nomeado Reichsführer SS, ou seja, chefe das SS em todo o Reich. Himmler era de origem bávara e de educação católica. Ainda estudante de agronomia, fez parte em 1919 dos corpos de voluntários que combateram contra o comunismo. Tinha tendências monárquicas e conservadoras de Direita transmitidas pelo pai, antigo preceptor do príncipe herdeiro Henrique da Baviera. O ideal de uma Ordem exerceu sobre ele um fascínio especial e os seus olhos voltaram-se para a antiga Ordem dos Cavaleiros Teutónicos a que já nos referimos. Queria fazer das SS um corpo capaz de assumir de forma nova a função de nó central do Estado, como tinha sucedido com a nobreza e com a sua lealdade à Coroa. A formação do homem SS visava a combinação do espírito espartano e da disciplina prussiana. Mas também se inspirou na Companhia de Jesus (Hitler dizia a gracejar que Himmler era o seu "Inácio de Loyola") no que se referia a certa despersonalização levada por vezes a limites sobre-humanos. Assim, por exemplo, dizia-se logo no início ao candidato SS que, pela sua fidelidade e obediência absoluta e em caso extremo, devia estar pronto a não poupar os próprios irmãos, que os pedidos de desculpa não se usavam nas SS, que a palavra dada era qualquer coisa de absoluto. Citando um exemplo tirado de um discurso de Himmler, podia pedir-se a um SS para não fumar. Era rejeitado se não prometesse fazê-lo, mas, caso tivesse prometido e fosse surpreendido a fumar, "restava-lhe a pistola", ou seja, o suicídio. Nos regimentos militares estavam previstas provas de coragem física: numa dessas provas, o candidato SS devia aguardar calmamente na posição de sentido a explosão da granada colocada em cima do capacete de aço.
Outro aspecto particular, era a cláusula racial. Além do sangue ariano (ascendência ariana provada a partir de 1750, pelo menos) e de uma constituição física sã e robusta, dava-se grande importância ao tipo nórdico de estatura alta. Por outro lado, Himmler queria fazer das SS um Sippenorden, isto é, uma Ordem que, à diferença dos antigos cavaleiros, correspondesse no futuro a uma raça, a um sangue, a uma linhagem hereditária (Sippe). Por essa razão, a liberdade de escolha conjugal do SS era fortemente limitada. Não devia desposar uma rapariga qualquer (menos ainda, mulheres de outra raça), e era necessária a aprovação mediante ofício racial especializado. Não estando de acordo, restava-lhe sair da Ordem. No entanto, depois da sua admissão (a seguir a um período probatório), a cláusula era claramente explicada ao aspirante SS. Assim se reafirmava a questão biológica ligada a certa banalização do ideal feminino e o especial relevo dado ao aspecto mãe da mulher.
-
Notas:
1 Por associação de ideias, podemos aludir a certa aversão pelo tipo "intelectual" no seio do Fascismo e, mais ainda, no Nacional-Socialismo. Com efeito, enquanto o Fascismo italiano respeitou os intelectuais e os homens de nomeada cultural sem se preocupar demasiado com a sua mentalidade efectiva e esperando a sua adesão formal ao regime, o Nacional-Socialismo teve menos contemplações e, sem ter em conta celebridades, permitiu-lhes, caso quisessem, partir para o estrangeiro. Entretanto, há que ter em conta o papel na Alemanha da pesada Kultur erudita agnóstica e de uma série de intelectuais burgueses de formação humanista e liberal. Refractários a toda a mística do Estado e da autoridade, tinham por dogma a antítese entre cultura e espírito, por um lado, e poder, política e virtudes militares e guerreiras, por outro (atribuem-se a Goebbels as palavras seguintes: "Quando os ouço falar de cultura, sinto vontade de levar a mão à pistola"). Do ponto de vista da Direita, é perfeitamente legítimo manter as distância em relação aos "intelectuais" e "homens de cultura", aos que, depois do triunfo da burguesia e da crise dos antigos regimes, pretendem ser os representantes verdadeiros dos valores espirituais.
Powered by Blogger